Folha acha um culpado para a ameaça de lockout dos caminhoneiros: Dilma

Atualizado em 29 de janeiro de 2021 às 6:40
Enquanto isso o capitão segue pondo fogo no circo sem ser incomodado

A Folha teve seu momento “Miriam Leitão” nesta sexta, 29.

Conseguiu enfiar Dilma Rousseff, que o jornal ajudou golpear em 2016, como uma das responsáveis pela ameaça de greve que os caminhoneiros estão fazendo contra o governo de Jair Bolsonaro.

Segundo a Folha, um dos motivos seria o ‘rescaldo dos incentivos para aquisições de caminhões no governo’ da ex-presidente.

Guardadas as proporções seria o mesmo que culpar Lula – que deixou a presidência em 2010 – por um eventual surto de ‘obesidade’ no país, já que nos tempos dele o brasileiro comia picanha e se fartava de churrasco todo fim de semana.

Quem aqui ainda acredita na Folha?

Leia o Editorial e tire suas conclusões:

Com a paralisação de 2018, que durou 11 dias e ameaçou até a continuidade do fornecimento de itens essenciais como alimentos, os caminhoneiros descobriram seu poder.

Na época, o risco foi identificado tardiamente e a crise foi mal gerida pelo governo de Michel Temer (MDB), mas também já apareciam os oportunistas dispostos a aproveitar o caos para fins eleitorais.

Um desses agitadores de então hoje é presidente da República. Jair Bolsonaro, que apoiou aquela greve e ajudou a jogar mais gasolina no fogo, agora pode colher o que plantou, para o mal do país.

Por causa dos aumentos recentes do preço do diesel e com a velha cantilena de que suas reivindicações não têm sido atendidas nos últimos anos, a categoria volta a seus ensaios de intimidação.

O encarecimento dos combustíveis é um problema real, que decorre da alta dos preços internacionais do petróleo e da desvalorização cambial aguda desde a pandemia. Se o governo não tem culpa pelas cotações externas, certamente está na sua conta o mau desempenho do real, em parte associado a dúvidas quanto à política fiscal.

Não se pode controlar preços artificialmente, pois as consequências para a Petrobras seriam dramáticas. Às pressas, o governo acena com o paliativo de uma redução de tributos federais, mas o espaço no Orçamento é limitado e seriam necessárias compensações.

O maior peso tributário, aliás, advém do ICMS estadual. Uma mudança que ajudaria a reduzir a amplitude das oscilações consistiria em fixar um valor para o imposto por litro, em vez da incidência proporcional, mas tal ideia não está nos planos dos governadores.

Também contribui para o problema o impasse que se seguiu ao tabelamento do frete adotado na época da paralisação. O tema ainda está em pauta no Supremo Tribunal Federal e não há solução iminente, inclusive porque a fixação de preços dificilmente poderá ser considerada constitucional.

Para piorar, o mercado continua com excesso de oferta de fretes, rescaldo dos incentivos para aquisições de caminhões no governo Dilma Rousseff (PT). O tabelamento também traz insegurança jurídica e incentiva grandes empresas a formarem suas próprias frotas, com consequências negativas para os caminhoneiros autônomos.

Não há saída simples, e a situação exige negociação hábil. Uma nova greve seria prejudicial para todos, pois acentuaria os riscos recessivos. A categoria tampouco terá a ganhar com radicalismo, e no momento atual é duvidoso que contará com apoio da sociedade.

A longo prazo, impõem-se investimentos pesados em logística, para que o país não continue refém de uma pauta retrógrada.