Folha demite jornalista atacado por Danilo Gentili por crítica desfavorável, e ainda tenta dar lição de ética. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 16 de outubro de 2017 às 8:09
Danilo Gentili não gostou desta entrevista nem da crítica publicada depois, atacou o jornalista e a Folha o demitiu

A Folha de S. Paulo confirma que demitiu o repórter Diego Bargas depois que ele foi atacado nas redes sociais por Danilo Gentili e seus milhões de seguidores.

“Danilo Gentili me esmagou como uma barata, só porque ele pode, só porque eu ousei o desafiar”, escreveu o repórter na rede social, segundo reportagem publicada hoje pelo jornal, que omitiu outro trecho da postagem de Bargas:

“A confusão com Gentili me fez perder o emprego. A Folha de S. Paulo me demitiu”.

O jornal diz que desligou o repórter, no meio da polêmica com Gentili porque ele teria desrespeitado reiteradamente norma interna do jornal sobre comportamento nas redes sociais.

“Os jornalistas da Folha são orientados a evitar manifestar posições político-partidárias e a não emitir nas redes juízos que comprometam a independência de suas reportagens”, informa o texto do jornal.

Foi Danilo Gentili quem apontou postagens de Diego Bargas que, na opinião dele, comprometeriam a independência do jornalista.

Na prática, o que aconteceu foi o seguinte: a Folha aceitou o argumento de Danilo Gentili e demitiu o jornalista.

A CBN, do Grupo Globo, não fez isso quando Doria e os militantes do MBL atacaram uma repórter na rádio por conta de reportagens de que eles não gostaram – a repórter divulgou a notícia de que moradores de rua da praça da Sé foram acordados com jato d’água.

Assim como Gentili e seus seguidores, também foram divulgadas postagens antigas da repórter para tentar fazer alguma ligação entre seu trabalho como jornalista e a opinião pessoal dela sobre fatos políticos.

Nesse caso, a rádio se manteve firme ao lado da profissional.

Já a Folha, com a demissão de Bargas, como decorrência da polêmica com Gentili, abriu um precedente ruinoso para a liberdade de expressão que é a base de todo trabalho jornalístico.

O jornalista, ao aceitar o vínculo empregatício com uma empresa, não abre mão do direito constitucional que todo cidadão tem de se expressar livremente.

Pode não fazê-lo e talvez seja recomendável que não o faça em algumas situações, mas não pode ser punido por isso.

Gentili deve estar triunfante por ter esmagado o repórter — “uma barata”, segundo ele próprio.

Mas sobre o repórter não tinha apenas o pé de Gentili. A Folha também estava lá.

E não foi só o repórter que foi esmagado – a liberdade de expressão também e, quando ela é atingida, a sociedade como o um todo apanha um pouco.

Além do mais, se a Folha estivesse muito preocupada com sua independência, deveria tomar outros cuidados.

Por exemplo, ela não deveria publicar, ao lado do texto do jornalista Diego Bargas, um banner para vender o livro de Gentili, que serviu de base para o filme objeto da crítica do jornalista.

Na promoção da livraria da Folha, você compra o livro e ganha um ingresso para ver o filme. O filme que, segundo Bargas, não é bom.

Misturar jornalismo com comércio é que gera um grande conflito de interesses, não expor opinião na própria rede social.

O banner para vender livro de Gentili, ao lado da crítica