
Proibido desde 2009 no Brasil, o cigarro eletrônico continua a ser usado por baixo do pano: cerca de 2% da população (2,2 milhões de pessoas) usam o cigarro eletrônico. Para efeito de comparação, menos de cinco anos atrás, em 2018, esse número era de 500 mil usuários, segundo pesquisa do Ipec. Na mesma pesquisa, 16,8% dos adolescentes de 13 a 17 anos disseram já ter experimentado o vape.
Na edição de 1º de dezembro, a Folha de S. Paulo apresentou um publieditorial disfarçado de jornalismo, patrocinado pela British American Tobacco. A empresa anglo-americana é controladora da Souza Cruz, maior fabricante de cigarros no Brasil, pagou pelo conteúdo na seção chamada de Estúdio Folha.
De acordo com o texto publicado no jornal, o cigarro eletrônico seria “até 95% menos nocivo do que o cigarro convencional”. O texto é muito conveniente – no mesmo 1º de dezembro, a Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, determinou a abertura de uma consulta pública sobre o tema.
Entretanto, a agência federal sugeriu manter a proibição dos cigarros eletrônicos no país. “Não podemos ignorar as evidências científicas: ainda não é seguro dizer que estes dispositivos podem substituir cigarros tradicionais por serem menos danosos”, disse Barra Torres, presidente da Anvisa e relator do caso.
Conforme o professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Lotufo, “é inacreditável o fato de uma fabricante de cigarros se esconder atrás da sigla de sua controladora (BAT) para disseminar conteúdo sobre o cigarro eletrônico”, disse ele em sua conta no Twitter.

A indústria do vape é a mesma indústria do tabaco que omitiu que o cigarro causava dependência, que omitiu as doenças relacionadas durante décadas e lança esse produto como uma coisa benéfica para quem quer parar de fumar. “Mas o cigarro eletrônico tem até mais nicotina do que um cigarro normal”, acrescentou ele.
O conteúdo surgiu de um painel realizado pela British American Tobacco e pelo Estúdio Folha, departamento de conteúdo patrocinado do jornal. Participaram do painel a hoje consultora da BAT e ex-diretora da Anvisa, Alessandra Bastos; Carolina Fidalgo, advogada especialista em regulação e Miguel Okumura, consumidor e ativista do vape e produtor de um podcast sobre o tema.
Composto por um farmacêutico, um oncologista e uma psicoterapeuta, outro painel do evento discutiu aspectos de saúde pública e redução de danos sobre o uso do cigarro eletrônico. Os especialistas defenderam a “regulação” como maneira de informar o consumidor de maneira adequada.
Em julho do ano de 2022, dentro da análise do processo de impacto regulatório do cigarro eletrônico, a Anvisa produziu um relatório afirmando “ser inviável a autorização dos vapes”.
Jaqueline Scholz, médica e membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia, em entrevista sobre a consulta pública para a mesma Folha de S. Paulo, diz haver “epidemia de consumo” em países que liberaram a venda destes dispositivos.
“A quantidade de nicotina que esse produto oferece é muito grande. A regulamentação só aumenta a base de usuários e provavelmente vai colocar em risco uma política pública [de controle do tabagismo] que nosso país é avançada”, disse Scholz, que defendeu manter o veto aos dispositivos.
Diretora no Brasil da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), Socorro Gross afirmou o sucesso do Brasil no combate ao tabagismo: 35% de fumantes em 1989, o Brasil passou a ter apenas 12,6% em 2019, um resultado impressionante”.
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