Folha explora com crueldade o desespero de um homem morto. Por Moisés Mendes

Atualizado em 23 de junho de 2022 às 14:51
Cesare Battisti
Folha explorando o caso – Foto: Reprodução

A série da Folha de S. Paulo sobre Cesare Battisti, que agora ataca Evo Morales (depois de atacar Lula), é uma das coisas mais repulsivas que o jornalismo fez esse ano.

A Folha explora a desgraça de um sujeito condenado à prisão perpétua, que está completamente desnorteado, para atingir Lula, Evo e o ministro do Supremo Luis Roberto Barroso.

O jornal usa os tormentos de um homem morto para atacar as esquerdas às vésperas da eleição, porque aqui não consegue descobrir nada contra Lula.

Battisti não está falando dos seus erros, mas disparando contra todos que tentaram ajudá-lo e, pelo que se percebe agora, entraram numa fria.

O ex-ministro da Justiça Tarso Genro diz hoje na mesma Folha:
“Jamais saberemos exatamente o que ocorreu (em relação aos crimes). Se ele falou a verdade quando obteve o refúgio, foi injustiçado. Se ele falou a verdade ao confessar, então a extradição foi bem feita”.

A Folha relembra que Battisti, “que teve seu refúgio no Brasil concedido por Genro em 2009 e confirmado por Lula no ano seguinte, é ex-integrante de um grupo terrorista de esquerda e foi condenado por quatro homicídios ocorridos nos anos de chumbo da Itália, entre o final dos anos 1960 e o início dos 1980”.

Em 2019, o italiano confessou os crimes e foi depois extraditado para a Itália. A mesma Folha relembra que, depois da confissão de Battisti, Lula pediu desculpas, no ano passado, pelo erro de tê-lo mantido no Brasil.

Se Lula pediu desculpas, se o sujeito confessou os crimes, se Tarso Genro admite que ninguém mais sabe qual é a verdade, por que a Folha explora, com crueldade, o desespero de Battisti?

Os que estudaram o jornalismo da extrema direita nos anos da ditadura devem saber do que se trata. É uma repetição da mesma tática suja e sensacionalista de exploração das misérias alheias para desqualificar inimigos.

A Folha, desesperada com a inexistência da terceira via, foi buscar na Itália a munição que não acha no Brasil.

Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes