Folha, que apoiou o golpe contra Dilma, lança “campanha pela democracia”

Atualizado em 25 de junho de 2020 às 6:51
Fachada do prédio em que funciona a redação da Folha no centro de São Paulo (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

PUBLICADO NO BRASIL 247

Em 2016, o jornal Folha de S. Paulo, da família Frias, defendeu a deposição da ex-presidente Dilma Rousseff por “pedaladas fiscais” num impeachment sem crime de responsabilidade, ou seja, um golpe de estado, que abriu espaço para a retomada do poder pela direita no Brasil – primeiramente com Michel Temer e, na sequência, com Jair Bolsonaro, eleito porque o ex-presidente Lula foi impedido de concorrer.

Quatro anos depois, com um Brasil pós-reforma trabalhista e pós-reforma previdenciária, que eram pontos centrais da chamada “ponte para o futuro”, a Folha decidiu lançar uma campanha “em defesa da democracia”, uma vez que Bolsonaro, embora execute a à risca a agenda liberal, provoca certo desconforto nas elites por sua falta de civilidade.

Em razão disso, a Folha decidiu lançar sua campanha no próximo fim de semana e também um curso sobre o que foi a ditadura militar de 1964, que a própria Folha rotulou como “ditabranda”.

“O papel institucional de um jornal como a Folha é mostrar de maneira didática e sem viés o que aconteceu, para que não aconteça mais. Não há solução fora da democracia, não há caminho que não o da Constituição”, diz o diretor de Redação da Folha, Sérgio Dávila.

Segundo o jornal, a campanha é inspirada na mobilização das Diretas Já, em 1984. Há 36 anos, uma faixa amarela foi acrescentada embaixo do cabeçalho do jornal, junto da frase “Use amarelo pelas diretas já”. Agora, a faixa retorna, com a frase “#UseAmarelo pela Democracia”, nas versões impressa e digital. O filme publicitário será veiculado ainda em canais de TVs abertas e pagas e em mídias sociais, informa a Folha em sua reportagem.

“O amarelo foi a cor das Diretas e, embora com variações, principalmente na camisa da seleção brasileira, tenha sido apropriado por Jair Bolsonaro e seus apoiadores, vem sendo resgatado por grupos com bandeiras pró-democracia surgidos nas últimas semanas, como o Estamos Juntos e o Somos 70 por cento, referência ao percentual apontado em pesquisas Datafolha de pessoas que não aprovam a gestão do atual presidente”, explica o jornal.

A campanha “pela democracia” da Folha, no entanto, não envolve qualquer autocrítica do jornal pelo apoio à ruptura do pacto democrático em 2016, que abriu espaço para a barbárie bolsonarista.