Folião se dá mal depois de tirar foto com jovens negros e chamá-los de ladrões. Por Sacramento

Atualizado em 15 de fevereiro de 2018 às 12:55

 

Uma das características do racismo à brasileira é associar a figura dos negros à criminalidade. Neste Carnaval um sujeito contaminado por este espírito resolveu fazer piada usando as imagens de rapazes negros que curtiam a folia no centro de Vitória, no Espírito Santo, e se deu mal.

Segundo a vítima Iarley Duarte, de 23 anos, um rapaz chegou próximo ao seu grupo de amigos e pediu para fazer uma foto. Os jovens permitiram, apesar de ninguém conhecer o tal rapaz, e seguiram na festa.

Iarley descobriu a razão da foto na Quarta-feira de Cinzas, após ser marcado em uma publicação no Twitter onde a foto dele e dos dois amigos, com o rapaz branco em primeiro plano, havia se transformado em um meme com a legenda: “vou roubei seu celular”.

Indignado, Iarley postou a foto no Facebook e fez um desabafo.

“Infelizmente ninguém está livre do racismo e do preconceito, esse babaca chegou em nós no bloco pediu pra tirar uma foto com a gente , sem nem nos conhecer sem nunca ter visto nós, ae vai e faz esse merda, filhinho de papai encubado otário. Somos pretos somos favelado e temos muito orgulho”, escreveu.

A publicação viralizou, com 18 mil curtidas e mais de 9 mil compartilhamentos. Internautas foram ao perfil do autor das fotos no Facebook e descobriram que ele trabalha em uma academia de treinamento funcional.

A resposta da empresa diante dos questionamentos a respeito da conduta do funcionário surpreendeu. Rápida, objetiva e empática, foi diferente da maioria das respostas de outras companhias em casos parecidos.

“Eu, Fabrício Affonso, negro, nascido em bairro de periferia da cidade de Alegre, sócio-proprietário da empresa Studio Vitória, considero inadmissível a conduta de qualquer funcionário da empresa nesse sentido.

Sei o quanto a minha cor é carregada de estigma e sei quantas barreiras tive que enfrentar para chegar aonde cheguei.

Minha mãe, caixa de supermercado, moradora do morro do Wilton, teve que criar eu e meus dois irmãos praticamente sozinha. Eu, com 17 anos, vim pra capital pra estudar, e só consegui me manter porque consegui com muito esforço a bolsa do PUPT (Programa Universidade Para Todos) e depois ser bolsista do Pró – Uni para cursar a faculdade de Educação Física.

Durante os anos de faculdade, eu estagiava em dois lugares e ainda assim, às vezes não tinha o dinheiro para o lanche nos poucos intervalos que tinha. Assim que me formei, me juntei a dois colegas para montar uma empresa. (…)

Conheço meus funcionários a nível pessoal, e acredito que a postagem tenha sido profundamente infeliz, beirando a ingenuidade, mas novamente, a empresa não pode compactuar com esse tipo de comportamento irresponsável e muito menos responder por ele.

Podem ter certeza que tomaremos as medidas necessárias. Não nos interessa um funcionário com tal perfil. Nem a imaturidade, nem o carnaval e nem a bebida é desculpa para o racismo.

Nada é desculpa para o racismo.”

Ao site Gazeta Online, Iarley contou que é técnico de Administração e trabalha há dois anos em uma gráfica. “Fiquei muito triste e senti raiva pelo acontecido. Sempre trabalhei, nunca me envolvi com nada errado. Minha vida sempre foi trabalhar”, disse em entrevista ao portal capixaba.

Quanto ao autor da foto, tudo indica que ele vai precisar espalhar currículos por aí. Só resta saber se terá senso de humor para postar uma selfie com a legenda “vou fui demitido”.