Fora do Eixo: o que separa a lavação de roupa suja da denúncia?

Atualizado em 18 de agosto de 2013 às 12:45

Sobre os ataques e contra ataques em torno do modus operandi da organização.

mortal kombat

O Fora do Eixo tem sido acusado de diversos malfeitos. Muitas histórias já circulavam há alguns anos, mas o barulho tornou-se ensurdecedor após a aparição de Pablo Capilé, o líder do FdE, e Bruno Torturra, da Mídia Ninja, no Roda Viva.

A cineasta Beatriz Seigner escreveu um post no Facebook sobre sua passagem por lá. Depois foi Laís Bellini. Agora a revista Carta Capital acrescentou mais oito histórias. A matéria, assinada por Lino Bocchini e Piero Locatelli, fala em “estelionato, dominação psicológica e ameaças”. Crimes, portanto.

Quatro pessoas se identificaram. As demais permaneceram anônimas. “Primeiro te isolam. Proíbem de sair na rua ´sem motivo´, impedem de encontrar amigos ou estabelecer qualquer contato com pessoas de fora”, afirmou o fotógrafo Rafael Rolim. Ele diz que usaram seu cartão de crédito para comprar um MacBook Pro para Capilé.

Segundo a Carta, os membros do Fora do Eixo também fazem as vezes de “iscas sexuais” para cooptar novos integrantes. O designer Alejandro Vargas descreve como funcionam essas “pescarias”. Vargas esteve no grupo por três anos.

O FdE publicou uma resposta em seu site. Contou que Lino Bocchini fez parte da organização e saiu rompido com a “rede”. “Por mais de um ano, Lino havia sido um dos mais assíduos, presentes e cruciais envolvidos na criação e desenvolvimento da PósTV e no laboratório do próprio NINJA. No tempo em que trabalhamos em conjunto demos amplo apoio a Bocchini, no caso Folha X Falha. Foram dezenas de programas ao vivo co-produzidos e realizados pela equipe da Casa Fora Do Eixo, dando visibilidade ao tema”. (“Falha” é um antigo blog de Bocchini que fazia paródia da Folha de S.Paulo).

“A matéria dá continuidade ao linchamento simbólico e amplia acusações de forma anônima ou não, visando desqualificar lideranças que trabalham no Fora do Eixo com o propósito claro, diante da nulidade jurídica das mesmas, de atingir a reputação da rede e de seus participantes”, diz o FdE.

O tiroteio pró e contra está disseminado nas redes sociais. Gente do Fora do Eixo tem se mobilizado intensamente para defender a causa. A questão principal, o destino dado às verbas oficiais que o coletivo captou, deu lugar a ataques e defesas do modus operandi do grupo. O que separa a lavação de roupa suja da denúncia?

Segundo José Nabuco Filho, colunista do Diário, mestre em Direito Penal, a prova oral é sempre válida para condenar ou absolver um réu. Mas ela, em si, não tem um valor preestabelecido na Justiça. Sua consistência maior ou menor vai de acordo com a coerência com outras provas.

“O testemunho deve ser visto com muita cautela porque pode ser movido por algum sentimento de afeto ou rancor”, diz Nabuco. “É preciso averiguar sobre a existência de ressentimentos que viciam a credibilidade. Não se trata de desprezar essa prova, mas de vê-la com cautela redobrada. Se uma pessoa trabalhou durante anos com os denunciados e conviveu com os desmandos sem escandalizar-se e, quando já não mais convive, fala da existência de supostos crimes, isso precisa ser visto com cuidado”.

“Por outro lado, especialmente em crimes que deixam vestígios, tais depoimentos são válidos para desencadear a investigação que leve ao encontro de provas consistentes”.