Formulação do general Mourão sobre “humanos direitos” foi usada em campanha da ditadura argentina. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 17 de setembro de 2018 às 22:23
O general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), vice de Jair Bolsonaro (Exército Brasileiro/Divulgação)

O candidato a vice de Jair Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, brilhou novamente em uma palestra no Sindicato da Habitação, Secovi, em São Paulo.

Além de dizer que o capitão está “fragilizado” e, por isso, era recomendável relevar o que ele disse sobre fraude nas eleições, Mourão embarcou numa digressão sobre “valores familiares”

“A partir do momento em que a família é dissociada, surgem os problemas sociais que estamos vivendo e atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai nem avô, é mãe e avó”, falou.

“E por isso torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados e que tendem a ingressar em narco-quadrilhas que afetam nosso país”.

Defendeu o trabalho da polícia e lamentou que ela seja criticada.

“Direitos humanos são para humanos direitos”, cravou.

Noves fora o preconceito gritante, essa formulação malandra, usada ad nauseum pela turma, está no manual do perfeito idiota fascistoide latino americano, que tem fetiche por tortura e pela violência do estado.

Em 1979, virou mote de campanha da ditadura argentina.

Na véspera de uma visita ao país da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA, o ministro do Interior, general Albano Harguindeguy, ordenou a compra de 250 mil adesivos em dois tamanhos, com o slogan “Os argentinos são direitos e humanos”.

O slogan foi elaborado a pedido do regime pela empresa Burson Marsteller, contratada em 1978 para melhorar a imagem do assassino Rafael Videla.

O objetivo era neutralizar ou reverter as denúncias de sobreviventes dos centros clandestinos de concentração, de exilados e parentes das vítimas no exterior, que a ditadura chamava de “movimento anti-Argentina.”

Adesivo da campanha da ditadura argentina em 1979

Conta o Clarín:

Também serviu para esconder os crimes cometidos pelo terrorismo de Estado e tentar perpetuar e aprofundar o sentido ilusório de legalidade e normalidade. (…)

É curioso analisar o arquivo secreto 330/79 do Ministério do Interior. Irrefutavelmente comprova que essa campanha foi planejada pelo governo militar e que não surgiu espontaneamente na classe média para a qual ela foi dirigida. (…)

Os decalques foram produzidos para os carros os exibirem pela cidade. Campanhas radiais com o mesmo objetivo já estavam operando na época. (…)

Além dos aspectos comerciais, a campanha tentava ocultar o que já era inocultável: os crimes contra a humanidade cometidos pelo terrorismo de Estado. O slogan “Os argentinos são humanos e direitos” deixou uma marca indelével nas cabeças dos argentinos. Um lema que muitos anos depois começou a envergonhá-los.