França compra de volta parte de empresa alvo de “Lava Jato” dos EUA

Atualizado em 12 de fevereiro de 2022 às 12:24
Alstom e General Electric

A França vai comprar de volta o setor de turbinas que a Alstom havia vendido em 2014 para a americana General Electric. Na época, a empresa francesa havia sido condenada pela justiça americana a pagar uma multa superior a 700 milhões de euros por praticar corrupção na Indonésia nos anos 2000.

Segundo Frédéric Pierucci, ex-executivo da Alstom preso nos EUA por mais de dois anos condenado pelo esquema de propinas, o caso faz parte de uma “guerra econômica” mundial dos Estados Unidos contra grandes empresas concorrentes das americanas. Pierucci e o jornalista Matthieu Aron contam os fatos em detalhes no livro “Arapuca Americana, uma Lava Jato Mundial”.

Sendo o Estado francês acionista na Alstom, foi o então Ministro da Economia Emmanuel Macron que autorizou a venda da totalidade do setor de energia à concorrente americana em 2014. Hoje presidente, ele volta atrás. Uma “cessão muito controversa”, “um psicodrama político que envenenou o inicio de seu mandato”, considera o jornal francês Les Echos. “Um erro estratégico”, diz o La Tribune.

Com a General Electric agora em dificuldades financeiras e o setor de turbinas à venda, Macron determinou que a empresa nacional de energia elétrica francesa (EDF) seja a compradora.

“Para a GE, a compra-revenda da ex-turbina da Alstom parece a posteriori um mau negocio”, afirma Le Figaro. Segundo o jornal francês, “a gigante americana perdeu a aposta”. “Certamente não foi o melhor negocio de Jeff Immelt”, diz sob anonimato à publicação uma fonte que acompanhou o caso em relação ao ex-CEO da companhia estadunidense.

“No inicio dos anos 2010, a aposta de Immelt consiste em separar as atividades financeiras da General Electric e de se reforçar na industria. O CEO queria reforçar o setor de gás e carvão com o objetivo de se beneficiar do próximo ‘boom’ nessa área. Tempo perdido: não houve ‘boom’ e a GE teve que demitir. Por outro lado, o setor eólico da GE Renewables, oriundo da Alstom, conheceu um belo crescimento e criou centenas de empregos na França. Inclusive a GE pretende manter essa atividade”, observa o periódico.

Perguntado sobre a reviravolta no caso pela revista francesa Marianne, que considerou Frédéric Pierucci uma “vitima colateral da guerra econômica na qual se encontram França e Estados Unidos em torno da venda da Alstom Energia à General Electric”, o consultor de empresas conta ter apresentado ao Palácio do Eliseu e ao Ministério da Economia em 2019 um projeto para recuperar o setor vendido. Sem sucesso naquele momento, ele diz que a operação desta semana esta estritamente relacionada às eleições presidenciais, marcadas para abril.

O presidente francês, candidato oficioso à reeleição, esteve em Belfort, onde fica a usina de turbinas, para anunciar a decisão e lançar a construção de novos reatores nucleares. A EDF deve pagar pelas turbinas cerca de 200 milhões de euros à General Electric, que havia comprado o setor de energia por 14 bilhões de euros sete anos atrás.