
O embaixador dos Estados Unidos na França, Charles Kushner, foi convocado nesta segunda-feira (25) pelo Ministério das Relações Exteriores francês após declarações críticas contra o presidente Emmanuel Macron sobre sua atuação no combate ao antissemitismo. As falas foram consideradas inaceitáveis por Paris e tratadas como interferência em assuntos internos.
Em comunicado, a diplomacia francesa afirmou que os comentários de Kushner “contrariam o direito internacional, em particular o dever de não se intrometer nos assuntos internos dos Estados. Também não estão à altura da qualidade do vínculo transatlântico entre a França e os Estados Unidos e da confiança que deve existir entre aliados”.
Essa convocação, medida incomum entre países parceiros, foi interpretada como um sinal da gravidade da situação.
A polêmica ocorre no contexto da decisão da França de reconhecer o Estado da Palestina durante a Assembleia Geral da ONU em setembro.
A medida foi criticada pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que em carta enviada em 17 de agosto acusou Macron de “alimentar o fogo antissemita” ao apoiar o reconhecimento palestino. O governo francês respondeu que a mensagem “não ficaria sem resposta” e defendeu que o momento exige “gravidade e responsabilidade, não confusão e manipulação”.

As declarações do diplomata
Kushner, pai de Jared Kushner, genro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, repetiu os argumentos de Netanyahu em uma carta publicada no Wall Street Journal. “Declarações que desonram Israel e gestos de reconhecimento de um Estado palestino encorajam extremistas, fomentam a violência e colocam em risco os judeus na França”, escreveu o diplomata.
Ele afirmou ainda que “não há um dia sem que judeus sejam agredidos nas ruas” e citou sinagogas, escolas e empresas alvo de ataques antissemitas. Para Kushner, o governo estadunidense demonstrou maior capacidade de “combater o antissemitismo” e serviu de exemplo sob a liderança de Trump.
Segundo ele, “quase metade dos jovens franceses dizem nunca ter ouvido falar do Holocausto”, o que, em sua visão, exige uma ação mais determinada das autoridades francesas.
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores francês ressaltou que “o aumento dos atos antissemitas na França desde 7 de outubro de 2023 é uma realidade que lamentamos, e as autoridades francesas estão totalmente mobilizadas. Tais atos são intoleráveis”.
A ministra da Igualdade entre Mulheres e Homens e da Luta contra Discriminações, Aurore Bergé, também se manifestou. Em entrevista às emissoras Europe 1 e CNews, disse que os atos antissemitas cresceram em várias democracias após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, inclusive nos Estados Unidos.
“Sim, o antissemitismo explodiu na França. Hoje, está menos elevado do que em 2024, mas ainda muito acima do nível anterior ao 7 de outubro. Isso é insuportável”, declarou.
Bergé destacou que o governo francês tem adotado medidas “extremamente concretas e firmes” contra o antissemitismo e diferenciou a postura de Paris da de Washington.
“Na França, não nos escondemos atrás de uma suposta liberdade de expressão para questionar, por exemplo, o Holocausto, como pode ser o caso nos Estados Unidos, onde se tem o direito de assumir uma forma de negacionismo em nome da liberdade de expressão”, afirmou. Para a ministra, “a luta da França, do governo, é sem ambiguidade diante do antissemitismo”.