França evitou mais de 60 mil mortes por coronavírus graças ao confinamento

Atualizado em 23 de abril de 2020 às 12:54

Publicado na RFI

Equipe do Samu transporta paciente com coronavírus para Hospital Universitário de Estrasburgo, no leste da França. REUTERS/Christian Hartmann

Para quem se pergunta se o confinamento é eficiente para evitar mortes por coronavírus, um estudo da Escola Francesa de Saúde Pública traz números surpreendentes. A pesquisa calculou que o país evitou 60 mil mortes ao ter optado por um drástico isolamento da população.

Ou seja, dezenas de milhares de vidas teriam sido perdidas caso a França não tivesse aplicado as rigorosas medidas de quarentena, o que significaria uma calamidade em termos de saúde pública. Esta é a principal conclusão de um grupo de especialistas da Ehesp (Escola Francesa de Estudos Superiores em Saúde Pública), em um relatório intitulado “Covid-19: O impacto da quarentena na epidemia”.

Usando uma modelagem complexa, os especialistas compararam a curva real do número de pacientes hospitalizados pela Covid-19 na França, entre março e abril de 2020, com a trajetória da curva se as medidas de quarentena não tivessem sido tomadas. O resultado é que, com a paralisia do país em larga escala, a França conseguiu estabilizar, em um mês, a curva de pacientes graves.

A Covid-19 poderia ter atingido 23% dos franceses

Desde o início da quarentena, em 17 de março, mais de 21 mil pessoas morreram em decorrência do coronavírus na França. Se as medidas de reclusão não tivessem sido adotadas, a epidemia teria seguido seu caminho natural e o vírus se espalharia para quase 23% da população, contra 6% de acordo com estimativas, enquanto o número de hospitalizações em terapia intensiva teria passado de 140 mil.

Porém, com medidas sanitárias excepcionais de confinamento da população, o número máximo de pacientes em terapia intensiva foi limitado a 7.100 durante o pico da epidemia, em 8 de abril. Somente em Paris, evitou-se a chegada em massa de 30 mil pacientes aos hospitais, o que certamente sobrecarregaria a capacidade hospitalar da capital francesa, que atingiria 153% de seus leitos disponíveis.

“Esses resultados enterram de vez a hipótese de que poderíamos ter deixado o vírus se espalhar, ao imaginar que, após todos terem a doença, nós nos livraríamos dele”, disse o pesquisador Pascal Crépey, acrescentando que se medidas de confinamento tivesse sido adotadas antes na região Leste, uma das mais afetadas do país, a explosão de casos talvez pudesse ter sido evitada.

O assunto ganha especial interesse na atualidade, quando surgem muitas discussões sobre a eficácia da quarentena e sobre suas consequências para a economia. Países como a Suécia, por exemplo, optaram por não confinar sua população.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro participou de manifestações e se opôs às medidas de isolamento. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump respaldou um movimento semelhante, ainda que minoritário, que considera que o confinamento é inaceitável por se tratar de uma violação dos direitos dos americanos de circularem e de trabalharem.