
O principal índice de ações da bolsa de Buenos Aires, o S&P Merval, registrou uma queda de quase 6% nesta segunda-feira (17), em meio a uma crise política e financeira envolvendo uma fraude impulsionada pelo presidente argentino, Javier Milei, que divulgou a criptomoeda $LIBRA. A moeda digital, promovida pelo político de extrema-direita em uma postagem no X, antigo Twitter, sofreu uma forte desvalorização, levando a uma onda de denúncias e investigações judiciais, inclusive de autoridades dos Estados Unidos.
A juíza federal Maria Servini foi designada para investigar o caso, que já acumula mais de 100 queixas. As acusações incluem associação ilícita, fraude e descumprimento dos deveres de funcionário público por parte de Milei. A Justiça argentina também analisa pedidos de busca e apreensão na residência presidencial de Olivos, além da apreensão de dispositivos eletrônicos como computadores e celulares.
Na sexta-feira (14), Milei publicou em seu perfil no X uma mensagem fixada por mais de cinco horas, promovendo o “Projeto Viva La Libertad” e a criptomoeda $LIBRA. “O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”, dizia a postagem.
A moeda foi lançada na exchange Meteora, a mesma plataforma que em janeiro lançou a moeda meme $Trump, que também teve uma rápida valorização seguida de queda, deixando cerca de 200 mil carteiras com prejuízos.
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Após a promoção de Milei, a $LIBRA sofreu uma desvalorização abrupta, gerando perdas estimadas em mais de US$ 4 bilhões para cerca de 40 mil investidores. A câmara fintech do país comparou o caso a um “rug pull”, golpe em que desenvolvedores atraem investidores, inflam o valor de uma moeda e depois retiram seus fundos, deixando os investidores com tokens sem valor.
O Observatório de Direito da Cidade, organização que lidera uma das ações judiciais, afirmou em comunicado que Milei e outros líderes de seu partido, La Libertad Avanza, conferiram legitimidade ao projeto, levando milhares de investidores a confiar na $LIBRA.
A denúncia também inclui Julián Peh, CEO e cofundador da Kip Network e KIP Protocol, empresas envolvidas na criação da criptomoeda, e o presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem, que repostou a mensagem de Milei.

Ben Chow, cofundador da Meteora, negou envolvimento direto no lançamento da $LIBRA, afirmando que a empresa apenas forneceu suporte de TI e ajudou a verificar a autenticidade do token após o lançamento.
A oposição argentina, liderada pela União pela Pátria (peronismo), anunciou que pedirá o impeachment de Milei no Congresso. Outras forças políticas defendem a criação de uma comissão investigadora e a interpelação do presidente. Analistas, no entanto, consideram improvável que a oposição consiga os votos necessários para avançar com o processo.
Ainda assim, as acusações de fraude e o envolvimento direto de Milei representam um desafio para o governo, que enfrenta eleições de meio de mandato ainda este ano.
A investigação em andamento pode ser uma oportunidade política para a oposição, que tenta recuperar terreno após um primeiro ano marcado por forte apoio popular a Milei.
Em resposta, a ONG Bitcoin Argentina, organização educacional sem fins lucrativos, emitiu um comunicado posicionando-se contra a promoção irresponsável de ativos digitais. “A promoção irresponsável de ativos coloca milhares de pessoas em risco. Nos posicionamos contra esse fato e reafirmamos a importância da educação e transparência”, disse a entidade.
O presidente argentino reagiu às críticas em uma postagem no X, na qual chamou seus opositores de “ratos imundos da casta política” e afirmou que a situação reforça sua convicção de “chutá-los para fora”. Milei também confirmou ter apagado a postagem original sobre a $LIBRA.
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