Fraude no INSS: CPMI apura transferências a entidades religiosas e pastores

Atualizado em 19 de novembro de 2025 às 19:27
CPMI do INSS. Foto: Divulgação

A CPMI do INSS ampliou as linhas de investigação sobre o esquema nacional de descontos indevidos em aposentadorias e começou a mapear movimentações financeiras atípicas envolvendo entidades suspeitas e instituições religiosas.

Documentos enviados por COAF e Receita Federal revelam que empresários ligados a Amar Brasil, CONAFER (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais) e CBPA (Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura) realizaram transferências frequentes a líderes religiosos, igrejas e organizações que agora serão chamadas a prestar esclarecimentos.

Os parlamentares querem entender se valores desviados de benefícios, por meio de filiações falsas, mensalidades indevidas e serviços não contratados, foram direcionados a comunidades religiosas por meio de doações, pagamentos institucionalmente legítimos ou se podem ter servido como possível camuflagem para lavagem de dinheiro.

Entre os alvos de requerimentos de informação estão organizações associadas à Igreja Batista da Lagoinha, redes ligadas ao pastor André Valadão e a Sete Church, comandada pelo pastor César Beluci. Os relatórios já analisados apontam repasses robustos. Um dos núcleos da fraude, apelidado de “Golden Boys”, teria enviado R$ 694 mil para a Sete Church, em Alphaville (SP).

Outro grupo transferiu R$ 200 mil ao pastor Péricles Albino Gonçalves, da Igreja Evangélica Campo de Anatote. A CBPA, por sua vez, repassou R$ 1,9 milhão à empresa Network, que redistribuiu valores para membros da família Câmara e a projetos ligados ao pastor Jônatas Câmara, presidente da Fundação Boas Novas.

Segundo os documentos, R$ 11 mil chegaram à Fundação Boas Novas, enquanto R$ 37 mil foram enviados a Heber Tavares Câmara, filho do deputado Silas Câmara, e R$ 146 mil para Milena Câmara, filha do parlamentar e advogada da CBPA.

Deputado Silas Câmara. Foto: Divulgação

O próprio Silas Câmara (Republicanos – AM) teria recebido R$ 9 mil. Já a empresa Conektah, que também recebeu recursos da CBPA, transferiu outros R$ 37 mil a Heber. A CPMI também investiga a Associação dos Aposentados do Brasil (AAB), que integra o mesmo ecossistema de entidades suspeitas.

Os sócios da AAB são fundadores de igrejas evangélicas no Distrito Federal, entre elas a Primeira Igreja Pentecostal Cristo a Esperança, ligada ao presidente da entidade, Dogival José dos Santos, e a Igreja Ministério Visão de Deus, presidida por Lucineide dos Santos Oliveira.

As conexões entre essas organizações e as empresas sob suspeita reforçam a necessidade de aprofundar a apuração. Outro ponto em análise é o chamado Clava Forte Bank, estrutura financeira paralela citada em relatórios preliminares. A CPMI quer verificar se o mecanismo foi usado para circular ou “esquentar” recursos desviados de aposentados, como sugerido em informes iniciais do COAF.

Os próximos passos incluem a votação da quebra de sigilos bancário e fiscal de empresas e entidades mencionadas nos relatórios, além da solicitação de novos RIFs (Relatórios de Inteligência Financeira) focados em transações feitas para igrejas e fundações. Líderes religiosos citados também devem ser convocados para prestar depoimento.

Segundo os parlamentares, o objetivo é garantir transparência e proteger aposentados que tiveram salários descontados sem autorização, esclarecendo a origem e o destino de todos os recursos movimentados pelos grupos investigados.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.