Frente ao tarifaço de Trump, China diz que pode ampliar cooperação com Brasil

Atualizado em 28 de julho de 2025 às 12:24
Guo Jiakun, representante do Ministério das Relações Exteriores da China. Foto: Divulgação

Em meio à ameaça de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros imposta pelos Estados Unidos, a China indicou apoio ao Brasil e aos países do Brics em defesa do comércio multilateral. A declaração foi feita nesta segunda-feira (28) pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Guo Jiakun, que destacou a disposição de Pequim para trabalhar em conjunto com a América Latina e proteger o sistema comercial centrado na OMC (Organização Mundial do Comércio).

A medida dos EUA, prevista para entrar em vigor na sexta-feira (1º de agosto), afeta fortemente exportadores brasileiros. Questionado sobre uma possível ampliação do mercado chinês para absorver parte dos produtos hoje destinados aos americanos, como os aviões da Embraer, Jiakun respondeu que a China valoriza a parceria com o Brasil em áreas como a aviação e está aberta a fortalecer essa cooperação dentro das regras do mercado.

Durante a coletiva, Guo também abordou as tratativas diretas entre China e Estados Unidos, atualmente em andamento em Estocolmo. Sem comentar diretamente os termos em negociação, afirmou que o diálogo deve ser conduzido com base em “igualdade, respeito e reciprocidade”, e defendeu soluções por meio da consulta entre as partes.

Ele evitou confirmar se Pequim suspendeu medidas de controle de exportações como parte de um possível acordo, conforme sugerido por reportagens da imprensa americana.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de a China aceitar um acordo semelhante ao firmado entre Washington e a União Europeia, considerado insatisfatório por lideranças europeias, Guo reiterou que seu país defende soluções construídas de forma justa e equilibrada.

Também mencionou a importância do entendimento alcançado entre os presidentes Xi Jinping e Donald Trump em telefonema no início de junho, embora sem detalhar compromissos. No cenário brasileiro, a diplomacia trabalha contra o tempo.

O chanceler Mauro Vieira chegou a Nova York no domingo (27) para uma reunião da ONU, mas sinalizou que pode ir a Washington nos próximos dias, caso haja abertura por parte do governo dos EUA para discutir alternativas à tarifa. Até o momento, segundo fontes do Itamaraty, não houve retorno formal da Casa Branca.

Paralelamente, uma delegação de oito senadores de diferentes partidos desembarcou nos Estados Unidos no fim de semana para buscar interlocução direta com autoridades e empresários. Nesta segunda-feira (28), o grupo se reuniu com a embaixadora Maria Luiza Viotti e diplomatas brasileiros, além de encontros com a Câmara de Comércio Brasil-EUA.

Em entrevista à TV Globo, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) admitiu que o cenário é desfavorável. “Não se tem canal de diálogo. Estamos na expectativa de retomar conversas antes que essa sobretarifa entre em vigor, o que seria muito prejudicial para toda a economia brasileira”, afirmou.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) fez coro, alertando que a postura imprevisível do governo Trump impõe cautela: “Mesmo com aliados históricos, a relação tem sido difícil. Com o Brasil, não será diferente. Precisamos de paciência e firmeza”.