Frigorífico que cobrou R$1.799,99 na “picanha mito” fez campanha irregular para Bolsonaro em 2018

Atualizado em 23 de maio de 2021 às 19:48

Publicado originalmente no De Olho nos Ruralistas

Por Alceu Luís Castilho

O presidente Jair Bolsonaro ostentou no domingo a aquisição da Picanha Mito, um produto vendido pelo Frigorífico Goiás, em Goiânia. O site Cozinha Bruta ligou para o açougue e constatou que a carne estava esgotada. Mas que a mesma picanha, sob outra marca, custa R$ 1.799,99 o quilo. A notícia destacou um certo “churrasqueiro dos artistas”, conhecido como Tchê, que tirou foto com Bolsonaro e as carnes no Dia das Mães.

Mas o Frigorífico Goiás tem dono. Chama-se Arnaldo Vieira Montalvão. De Olho nos Ruralistas constatou que a relação entre o açougue para ricos e o político é mais antiga. Bolsonaro já apareceu em foto anterior no Instagram do frigorífico, que tem mais de 1 milhão de seguidores. Em 2018, o próprio Montalvão contou na rede social que estava sendo investigado por propaganda irregular para o candidato do PSL. E debochou da intimação feita pela Justiça Eleitoral.

O perfil do açougue no Instagram republicou ontem a foto de Bolsonaro com camiseta do Corinthians, a exibir, no Dia das Mães, a embalagem com picanha. Outra imagem com o presidente fazendo gesto de arminhas e óculos “fatais” já tinha sido publicada, por exemplo, no dia 05 de março. Mas compõe uma sequência de homenagens do frigorífico a Bolsonaro, que ostentou no dia 22 de janeiro outra foto do “churrasco do Tchê“, ambos a empunhar uma picanha uruguaia.

AÇOUGUE DAVA DESCONTO PARA ELEITORES DE BOLSONARO

O Diário de Goiás contou, no dia 24 de outubro de 2018, que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO) intimara o proprietário por vender um produto na promoção por R$ 17, em referência ao número de campanha de Bolsonaro.

A foto divulgada pelo jornal já não está mais no Instagram do frigorífico. Mas ainda é possível achar a imagem de uma picanha marcada com o número 17, como se vê mais abaixo — entre outras referências ao candidato de estimação do empresário.

A promoção era para quem chegasse no açougue com o adesivo do candidato do PSL. O Frigorífico Goiás publicou imagem da carta de intimação, que determinava interrupção imediata da propaganda, e de decisão do juiz eleitoral, que apontava “vantagens indevidas aos eleitores do candidato”.

O post no Facebook foi acompanhado de novas propagandas de Bolsonaro. “Esse é o Brasil que eu não quero”, escreveu Montalvão.

Em 2019 o açougue já vendia o Kit-churrasco Mito, com a face de Bolsonaro e o lema fascista do presidente, reproduzido na resposta pública ao TRE: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Foi um desses itens, com lema e tudo, que Bolsonaro ostentou no domingo, em foto ao lado do “churrasqueiro dos artistas”.

O cantor sertanejo Rodolffo, que ficou mais conhecido este ano por ser um dos participantes do programa Big Brother Brasil, da Rede Globo, apareceu em fotos em janeiro daquele ano e em agosto de 2018, meses depois de Marrone. Um terceiro cantor sertanejo, Leonardo, é quem mais aparece nas propagandas do frigorífico. Em novembro de 2018, um mês após as eleições, até um Batalhão da Rotam tirou foto em frente do açougue.

Naquele ano a picanha japonesa comprada por Bolsonaro custava R$ 1.485 o quilo. Mas o proprietário já oferecia uma promoção, por R$ 900 o quilo.