“Fui achado na internet”, diz ao DCM advogado brasileiro gay que está salvando seus colegas no Afeganistão

Atualizado em 20 de agosto de 2021 às 0:01
O advogado Flavio Pavinatto

Tiago Pavinatto, doutor em Direito Civil pela USP, foi acionado nessa quarta-feira (19) por profissionais da Advocacia-Geral do Afeganistão da gestão que foi interrompida pela insurreição Talibã ocorrida na última semana para colaborar com a expatriação de seus colegas.

“Somos um gay e algumas mulheres tentando ajudar advogados de um país em que gays não têm direitos”, diz o jurista em entrevista ao DCM.

Em um tuíte, ele dividiu o fato com seus seguidores, ressaltando sua condição: “Quem diria… um jurista assumidamente gay (eu) ajudando expatriar os advogados depostos da advocacia geral de Cabul a pedido do ex-advogado geral do Afeganistão que me procurou esta manhã.”

Pavinatto, que é colaborador no canal Operação Policial, no qual comenta sobre crimes de grande repercussão, conversou com o DCM sobre sua atuação em defesa dos colegas afegãos:

Como esse pedido de socorro dos afegãos chegou até você?

Os afegãos vinham fazendo disparos em massa pedindo ajuda humanitária para advogados que encontravam mundo afora que entendiam que de alguma forma poderiam colaborar com eles. Meu telefone está disponibilizado em meu Instagram comercial. Minha primeira preocupação foi checar se não era trote, mas apurei que não. De fato o pedido veio de um funcionário da Advocacia Geral do Afeganistão. O curioso é que fui achado na internet por conta de minhas participações no canal Operação Policial, onde comentamos sobre crimes de grande repercussão.

Quais foram as primeiras providências tomadas?

Estamos organizando um movimento conjunto com Anistia Internacional e a Advocacia da União daqui do Brasil, mas ainda estamos aguardando o envio de alguns documentos deles, uma vez que fizeram apenas o primeiro contato e por causa do fuso-horário, acredito que apenas de madrugada receberemos algo.

Sua tese de doutorado é sobre os reflexos do fanatismo religioso no direito civil. Acredita que isso possa ter chamado a atenção desses afegãos para o seu nome?

Acredito que sim, pois meu livro está em muitas bibliotecas e não apenas no Brasil. Isso pode sim ter pesado nessa escolha. Fui o primeiro a escrever sobre o assunto dentro do direito. O fanatismo cria um campo mental fértil para o desenvolvimento de alguma psicose pré-existente.

Sabe se há advogadas nesse grupo que busca o exílio?

Dificilmente. Acho pouco provável que uma mulher tenha conseguido cursar Direito no Afeganistão e ainda mais improvável que alguma tenha chegado a atuar nessa esfera do Estado. O curioso é que quem está colaborando comigo no contato com a Anistia Internacional e com algumas advogadas da União é minha colega Ana Paula Junqueira. Somos um gay e algumas mulheres tentando ajudar advogados de um país em que gays e mulheres não têm esse direito.