Fui agredido na manifestação em Copacabana. Por Léo Mendes

Atualizado em 14 de março de 2016 às 10:18

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Fui agredido na manifestação em Copacabana, quando tirava a foto de uma vendedora de cerveja. O que me chamou a atenção para a foto foi o contraste da cor de pele da vendedora com a de todos os manifestantes que apareciam na imagem.

Um homem com a camisa polo oficial da CBF me empurrou e mandou eu ir embora dali. Obedeci, já que louco desse tipo pode ser perigoso, ainda mais em bando.

Pensei em pedir ajuda à polícia, já que hoje ela parecia tão amigável e cheia de sorrisos para o público. Achei melhor não, ao lembrar do homem que dançava de vermelho, foi agredido por manifestantes e levado por policiais.

Não queria ser levado por policiais, queria ver aquilo.

“ Aquilo” devido a minha incapacidade de definir em uma palavra o que foi aquilo. Há quem chame de protestos contra a corrupção, mas eu prefiro micareta, visto a quantidade de corruptos que subiram nos trios elétricos ao som de marchinhas.

É a quinta manifestação desse tipo que eu vou como repórter, e essa realmente parecia ter um pouco mais de gente do que as do ano passado. Mais do mesmo.

Mais uma vez, majoritariamente famílias, formadas por avós, pais, crianças e poodles vestidos com as cores da bandeira nacional. No Rio de Janeiro, arriscaria dizer que entre 95% e 99% de famílias brancas e poodles, com margem de erro inferior a do Instituto Paraná.

Não são protestos da juventude, de pobres, negros, da diversidade ou pelo futuro. São fantasmas do passado, exatamente como previu o movimento dialético proposto por Engels, segundo o MP de São Paulo.

A síntese de 1964 e de um governo de esquerda que conseguiu se manter por doze anos no poder, mas não foi capaz de modificar o sistema ou educar promotores.

Que pode olhar para os pobres como nenhum outro, tirar milhões do mapa da fome, mas não foi capaz de regulamentar a mídia, de fazer uma reforma tributária justa, avançar em direitos humanos ou acabar com a corrupção.

Em suma, não foi capaz de realizar a antítese completa da dialética, tendo como base a chegada dos europeus ou seus herdeiros manifestantes.

Bolsonaros, Felicianos, Aécios, Cunhas… são milhões contra Dilma, ainda que não o suficiente para vencer nas urnas.

Milhões que parecem chegar esse domingo ao limite, já que não é possível a mídia hegemônica apoiar mais do que apoiou essas manifestações. O impeachment dependia disso, repetiram ad náusea, enquanto convocavam os manifestantes.

De fato, o impeachment não depende da comprovação de crimes, tampouco da vontade popular. Depende antes de que um número suficiente de deputados e senadores dispostos a jogar no lixo a democracia, com o apoio de tudo o que há de pior no Brasil e esteve nas ruas mais uma vez.