Futura Inteligência: Sem Bolsonaro no páreo, seus votos migram para Moro. Por Miguel do Rosário

Atualizado em 31 de outubro de 2021 às 15:23
Veja Lula e Moro
Lula e Sergio Moro. Foto: Reprodução/Brasil de Fato

O jornalista Miguel do Rosário, do Cafézinho, escreve sobre migração de votos. E como Sergio Moro pode herdar o bolsonarismo caso Jair Bolsonaro não possa concorrer à reeleição.

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Moro e Bolsonaro

Alguns candidatos da terceira via apostam no esvaziamento de Jair Bolsonaro para que se abra uma vaga no segundo turno.

É uma hipótese remota, visto que Bolsonaro, apesar de tudo, se mantém firme nas pesquisas, sempre oscilando entre 20% e 30% na espontânea, onde se apura o eleitor mais seguro de seu voto.

Segundo a pesquisa do Futura Inteligência / Modalmais, realizada entre os dias 19 e 22 de outubro, Bolsonaro tem 29% na espontânea, contra 31% de Lula, e 2% de Ciro.

Entretanto, se acontecesse de Bolsonaro se esvaziar, ou se ele desistisse, quem herdaria seus votos?

A pesquisa da Futura traz 12 cenários, alguns bem originais, como aqueles sem presença de Lula, ou sem presença de Bolsonaro.

Os números são particularmente interessantes porque há tabelas estratificadas, por região, sexo, escolaridade, renda e idade.

No cenário 4, por exemplo, não temos a presença de Bolsonaro. É uma situação que nos permite, portanto, identificar para onde iria o voto bolsonarista no caso dele, por alguma razão, não se candidatar, ou simplesmente derretesse, em virtude de uma explosão de sua rejeição.

Neste caso, a pesquisa Futura sinaliza que o segundo turno seria disputado entre Lula e Sergio Moro: o petista pontuaria 40%, seguido de Moro, com 15,5%, Ciro com 10%, Datena com 8% e Doria com 3,6%.

Na verdade, os números deste cenário sinalizam vitória no primeiro turno de Lula. Mas deixemos essa hipótese em segundo plano.

CENÁRIO 4 (SEM BOLSONARO)

Nas tabelas estratificadas é possível ter uma ideia mais detalhada sobre a migração do voto bolsonarista.

Neste cenário sem Bolsonaro, Lula lidera em todas as regiões, com exceção do Sul, onde ficaria tecnicamente empatado com Moro: 27,4% X 25,8%. Ciro tem 10% no Sul, Datena 5,5%.

No Sudeste, Lula teria mais que o dobro de Sergio Moro: 35% X 15%. Ainda no Sudeste, Ciro ficaria em quarto lugar, com 8,8%, atrás de Datena, que pontuaria 11,8%.

No Centro Oeste, Lula pontua 33% contra 19,6% de Sergio Moro. Datena e Ciro ficam distantes, com 9,6% e 9,0%, respectivamente.

Na tabela por faixa etária, Lula lidera em todas as colunas. Moro tem melhor desempenho entre jovens de 16 a 24 anos, entre os quais ele tem 22%, ainda sim muito atrás de Lula, que tem 37% nessa faixa, mas bem distante de Ciro, que pontua 13%.

Na tabela por renda, vemos as diferenças mais expressivas entre os candidatos.

Na primeira coluna, com eleitores com renda familiar até um salário, que formam o maior grupo social do país, correspondente a 30,4% do eleitorado, Lula lidera completamente isolado, com 50,5% dos votos, contra 9,9% de Moro, 9,7% de Datena e 9,5% de Ciro.

Na faixa seguinte, com eleitores com renda familiar entre 1 e 2 salários (que correspondem a 21% do eleitorado), Lula permanece na liderança isolado, com 38%, contra 17% de Moro, 9,5% de Datena e 8,8% de Ciro.

Entre aqueles com renda de 2 a 5 salários, que respondem por 25% do eleitorado, a diferença entre Lula e Moro cai para apenas 5 pontos, mas o petista ainda lidera com 27,8%, contra 22,8% de Moro. Ciro tem 13% nessa faixa; Datena 5,6%.

Na coluna dos eleitores com renda familiar de 5 a 10 salários, que correspondem a 9% do eleitorado, Sergio Moro assume a liderança, com 25,5%. Lula tem 19,4%. Ciro fica em terceiro, com 13,3%.

Entre os eleitores mais ricos, com renda familiar acima de 10 salários, Lula e Moro empatam, embora com pequena margem a favor de Lula: 25,7% X 24,2%. Ciro Gomes tem apenas 5,7% nessa faixa.

Na estratificação por escolaridade, Lula lidera isolamente entre eleitores com formação até o ensino fundamental, com 48%, o que é quatro vezes mais o percentual do segundo colocado, Moro, que tem apenas 12%. Datena vem em terceiro, com 11%, seguido de Ciro, com 8%.

Cidadãos com ensino fundamental correspondem a 44% do eleitorado total.

Nas colunas seguintes, Lula também lidera, sobretudo entre eleitores com formação até o ensino médio. Entre eleitores com ensino superior, Lula tem 29% contra 23% de Moro e 14,7% de Ciro.

Pessoas com formação até o ensino médio correspondem a 41% do eleitorado. Os que curso superior representam 15%.

Na tabela por sexo, é interessante notar que Lula é um dos poucos candidatos que tem mais votos femininos do que masculinos.

Entre mulheres, a liderança de Lula é gigante: 43,5% contra 14% de Moro e 9% de Ciro.  Mas o petista também está à frente entre homens, com 36%, contra 17% de Moro e 11% de Ciro.

Os números deixam bem claro que o candidato melhor posicionado para receber o voto bolsonarista, no caso do presidente decidir não concorrer, é o ex-juiz Sergio Moro. A explicação é simples: ele dialoga melhor com o campo de direita.

Sem Bolsonaro, o herdeiro é Sergio Moro.

Quanto a Ciro Gomes, sua performance seria melhor num cenário sem Lula. A Futura fez esse cenário, o 1. Neste caso, Bolsonaro teria 33,5% no primeiro turno, contra 17,9% de Ciro e 12,% de Moro.

CENÁRIO 1 (SEM LULA)

No cenário 1, sem Lula, nota-se grande dispersão dos votos dos setores lulistas. Os eleitores com renda familiar até 1 salário, por exemplo, migrariam para Ciro, Bolsonaro, Moro, além de um aumento expressivo dos votos em branco e nulos. O voto nordestino, neste cenário sem Lula, migraria sobretudo para Ciro, e um pouco para Moro, mas a maior parte iria se perder em votos nulos ou brancos.

Para lembrar, o cenário “normal”, ou padrão, com Lula, Bolsonaro, Ciro e outros da terceira via, é o número 11. Nele, Lula tem 38%, contra 31% de Bolsonaro, 9% de Moro e 7% de Ciro.

CENÁRIO 11 (PADRÃO)

Conclusão

A presença de Lula no pleito é fundamental para a vitória contra Bolsonaro. Num cenário sem Lula, os votos dos mais pobres e do Nordeste se dispersariam. Um segundo turno entre Bolsonaro e Ciro, por exemplo, seria o ideal para o atual presidente, porque haveria uma grande abstenção dos setores lulistas.

Num eventual segundo turno entre Lula e Ciro, por sua vez, o petista teria vitória relativamente fácil, pois teria o voto dos mais pobres e do Nordeste. Ciro não conseguiu conquistar o voto dos setores mais bolsonaristas (Sul, Centro-Oeste, classe média), de modo que haveria grande dispersão desses eleitores, com alta abstenção, para vantagem de Lula.

Sem Bolsonaro, entra Moro. O ex-juiz é o herdeiro natural do voto conservador, mas também perderia facilmente de Lula, por ter baixa penetração entre as camadas mais populares.

O único candidato da direita com chances de oferecer perigo à vitória de Lula é mesmo o presidente Jair Bolsonaro, porque o presidente permanece o campeão das classses médias e ainda lidera no centro-oeste e no sul.

A íntegra da pesquisa Futura Inteligência / Modalmais pode ser baixada aqui.

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