Futuro ministro Múcio mostra perigosa alienação sobre cumplicidade do Exército com terrorismo. Por Jeferson Miola

Atualizado em 26 de dezembro de 2022 às 22:23
José Múcio Monteiro de terno e gravata e olhando para o lado
José Múcio Monteiro. Foto: TCU

A jornalista Maria Cristina Fernandes [Valor Econômico] descreve em reportagem que de acordo com o futuro ministro da Defesa Múcio Monteiro, “os manifestantes acampados em frente ao Quartel General do Exército lá permanecerão na posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, se assim o desejarem”.

Será assim mesmo: os criminosos da família militar só levantarão acampamento “se assim o desejarem”! – uma liberalidade impensável para trabalhadores do MST, MTST, professores e sindicalistas em geral que se manifestam pacificamente em busca dos seus direitos.

Pode-se depreender que na visão de Múcio, seria da livre e espontânea vontade dos terroristas amotinados em frente ao QG do Exército a decisão de continuarem ou de interromperem suas práticas criminosas, terroristas e antidemocráticas, mas não a imposição da Lei.

A consequência trágica desta postura seria a de que, mesmo no governo eleito que assume em 1º de janeiro, a Constituição continuaria sendo desprezada nesse território sem Lei que são as áreas sob administração do Exército.

Ainda segundo relata a jornalista, Múcio assegura que “não vamos tirar ninguém na marra”.

Quando se refere a “ninguém” que será retirado “na marra”, Múcio está se referindo a “ninguém” menos que terroristas e baderneiros amotinados em frente à sede do Exército, desde onde arquitetam atentados terroristas como aqueles executados nos dias 12 e 24 de dezembro em Brasília com a cumplicidade notória das cúpulas fascistas das Forças Armadas.

Múcio parece minimizar os graves e ameaçadores acontecimentos.

A jornalista diz que o futuro ministro considera que a polícia militar do DF, uma estrutura bolsonarista que não prendeu nenhum terrorista dos atos de terror de 12 de dezembro em Brasília, “está atuante”.

Segundo a matéria de Maria Cristina Fernandes, “o futuro ministro disse desconhecer o general” com quem o terrorista conversou previamente à perpetração do atentado. E, pelo visto, ele tampouco exigiu saber a identidade do general comparsa dos terroristas.

O assombroso é que estas manifestações do futuro ministro da Defesa ocorreram após o encontro que ele e o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, tiveram com o general e ministro bolsonarista Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira para tratar do terrorismo que ameaça o país.

Múcio ainda naturalizou o fato do general Paulo Sérgio abandonar o cargo com dois dias de antecedência, para produzir propositalmente um vácuo de poder num momento tenso e de incertezas.

A postura de José Múcio, além de imprópria à luz da legislação e da Constituição brasileira, enfraquece a autoridade civil do futuro comandante supremo das Forças Armadas eleito pela soberania popular, o presidente Lula.

Este posicionamento do futuro ministro da Defesa não condiz com a gravidade e com a urgência da situação política nacional, em que células terroristas são fomentadas nos quartéis e contam com a cumplicidade e o envolvimento orgânico do Exército brasileiro.

Mesmo com a derrota da extrema-direita na batalha de 30 de outubro, a guerra fascista contra a democracia e o Estado de Direito não acabou. Os militares são o ator central desta guerra. Não é crível que o futuro ministro Múcio ainda não tenha entendido que o Exército faz do terrorismo do século 21 o seu Riocentro do ano 1981 do século passado.

Publicado originalmente no blog do autor

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link