Ganhador do Nobel aponta os segredos da longevidade e alerta: “Não são remédios”

Atualizado em 27 de julho de 2025 às 10:46
Venki Ramakrishnan, Nobel de Química e autor do livro “Why We Die” – Foto: Reprodução

“Comer bem, dormir e fazer exercício são atualmente mais eficazes do que qualquer medicamento antienvelhecimento existente no mercado”, afirmou o Nobel de Química Venki Ramakrishnan, autor do livro Why We Die: The New Science of Aging and The Quest for Immortality.

Aos 71 anos, o cientista indiano que dedicou a carreira a estudar os mecanismos do envelhecimento defende que hábitos simples têm mais impacto na longevidade do que pílulas milagrosas ou avanços futuristas, como criogenia ou reprogramação celular. Confira trechos de sua entrevista à BBC:

BBC – O que é o envelhecimento? Em que consiste esse processo no ser humano?

Venki Ramakrishnan – Uma das principais causas do envelhecimento é o acúmulo de danos aos genes do nosso DNA.

A informação mais valiosa que os genes carregam é como produzir proteínas.

Em nível celular, as proteínas realizam milhares de reações químicas que tornam a vida possível. Elas dão forma e força ao nosso corpo, mas também permitem a comunicação entre as células.

Graças a elas temos nossos sentidos. E nosso sistema nervoso depende delas para transmitir sinais e armazenar nossa memória.

Nossos anticorpos são proteínas, e são elas que permitem à célula produzir as moléculas de que necessita, incluindo gorduras, carboidratos, vitaminas, hormônios e os próprios genes.

Portanto, o envelhecimento tem muito a ver com a perda da capacidade do nosso corpo de regular a produção e destruição de proteínas nas células.

Podemos ver isso como um acúmulo de danos químicos nas nossas moléculas, células, tecidos e, finalmente, em todo o nosso corpo.

É um processo gradual, desde o momento em que nascemos. Antes mesmo já estamos envelhecendo, mas desde cedo não sentimos isso porque estamos crescendo, estamos nos desenvolvendo.

Depois, com o passar dos anos, os sintomas tornam-se mais evidentes e quando os sistemas críticos começam a falhar, o corpo não consegue funcionar como um todo unificado… E é isso que leva à morte.

O interessante da morte é que, quando morremos, a maior parte das nossas células ainda está viva — razão pela qual os nossos órgãos podem ser doados — mas já não são capazes de funcionar como um todo. Isso é a morte. (…)

BBC – Há muito esforço e muito dinheiro em ciência e tecnologia que visa retardar o envelhecimento, mas no seu livro você deixa claro que existem outras formas de se manter saudável que estão muito mais ao nosso alcance…

Ramakrishnan – Comer bem, dormir bem e fazer exercício são atualmente mais eficazes do que qualquer medicamento antienvelhecimento existente no mercado.

E não têm efeitos colaterais, além de terem uma base biológica sólida contra o envelhecimento.

O ser humano não evoluiu para comer em abundância, sobremesas e coisas assim.

Nossa espécie começou como caçadores e coletores. Comíamos esporadicamente, jejuávamos naturalmente e tínhamos a restrição calórica que mencionei antes.

Mas agora comemos mesmo quando não temos fome, e no Ocidente vemos um enorme aumento da obesidade.

Hoje vivemos uma vida sedentária em relação aos nossos antepassados, que eram agricultores, caçadores, trabalhadores manuais.

E sobre o sono, muitas vezes subestimamos a sua importância, mas ele é extremamente valioso para os mecanismos de reparação do nosso corpo.

Colocar em prática essas dicas antigas nos ajuda a manter a massa muscular, regular a função mitocondrial, a pressão arterial, o estresse e a reduzir o risco de demência.

O problema é que nem sempre é fácil segui-los. Às vezes, as pessoas preferem apenas tomar uma pílula e viver suas vidas da maneira que desejam. Essa é a parte que temos que superar.

Alimentação rica em vegetais, grãos e peixes está entre os hábitos mais eficazes para retardar o envelhecimento, segundo cientistas – Foto: Reprodução

BBC – Você gosta daquela frase popular que diz que não importa quantos anos você vive, mas sim a vida que você teve nesses anos?

Ramakrishnan – É uma frase muito bonita e concordo com ela. É disso que se trata, ter um propósito, tirar o máximo proveito da sua vida.

Há muitas evidências de que ter um propósito na vida reduz o risco de ataques cardíacos e declínio cognitivo.

Mas também é verdade que todos nós queremos instintivamente viver o máximo que pudermos, e isso cria um paradoxo, porque o que queremos como indivíduos não é necessariamente bom para a sociedade ou para o planeta.

E vemos isso no uso de energia, no aquecimento global, na perda de biodiversidade… Estamos tomando decisões individuais que são prejudiciais à sociedade como um todo e reverter isso requer um verdadeiro esforço consciente.