“Genocida”: Protestos interrompem discurso de Trump após libertação de reféns de Gaza

Atualizado em 13 de outubro de 2025 às 9:51

O discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Parlamento israelense, em Jerusalém, foi interrompido nesta segunda-feira (13) por dois deputados que pediram o reconhecimento do Estado da Palestina. Ofer Cassif e Ayman Odeh, ambos integrantes da Knesset, foram retirados à força por seguranças após exibirem cartazes com as palavras “Genocida” e “Reconheçam a Palestina”.

Odeh, que lidera a Lista Árabe Unida, ergueu o cartaz no momento em que Trump celebrava o que chamou de “um novo amanhecer histórico para o Oriente Médio”. Enquanto era levado para fora, gritos e vaias tomaram o plenário.

Minutos depois, em uma publicação na rede X, o parlamentar afirmou: “Fui expulso apenas por levantar o pedido mais simples, um pedido com o qual toda a comunidade internacional concorda: reconhecer o Estado palestino. Reconhecer uma realidade simples: há dois povos aqui, e nenhum deles vai desaparecer.”

Ofer Cassif, também expulso, publicou mensagem semelhante. “Não viemos para perturbar, mas para exigir justiça. A verdadeira paz — que salvará os dois povos desta terra — só virá com o fim da ocupação e do apartheid e com a criação de um Estado palestino ao lado de Israel. Recusem ser ocupantes. Resistam ao governo do derramamento de sangue”, escreveu.

Trump é o quarto presidente norte-americano a discursar no Parlamento israelense e o primeiro desde 2008. O evento marcou o acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos entre Israel e o Hamas, que incluiu uma troca de prisioneiros. Antes do discurso de Trump, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu o agradeceu por reconhecer Jerusalém como capital de Israel, transferir a embaixada americana, apoiar a anexação das Colinas de Golã e retirar os EUA do acordo nuclear com o Irã.

O premiê também entregou a Trump o Prêmio Israel, a mais alta honraria cultural do país.

Durante o pronunciamento, Trump elogiou Netanyahu — “Ele não é o homem mais fácil de lidar, mas é isso que o torna grande” — e afirmou que a região vive “o início de uma era dourada para Israel e para o Oriente Médio”. O presidente também declarou que “Israel, com a nossa ajuda, conquistou tudo o que podia pela força das armas” e pediu que os países que ainda não têm relações com o Estado judeu “façam um favor” e se juntem aos Acordos de Abraão.

Os dois parlamentares pertencem ao bloco de oposição que tem criticado duramente o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por suas políticas nos territórios palestinos ocupados — especialmente pela ofensiva militar em Gaza, que deixou mais de 65 mil mortos desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual 1.200 israelenses foram assassinados.

Ayman Odeh, de 50 anos, nasceu em uma família muçulmana, mas se declara ateu. Ele é advogado e líder do partido árabe-judeu Hadash, que integra a coalizão política conhecida como Lista Conjunta. O Hadash é um movimento de esquerda formado pelo Partido Comunista de Israel (Maki) e outros grupos progressistas.

Ao longo da carreira, Odeh tem defendido direitos democráticos para os cidadãos árabes e palestinos de Israel, propondo um plano de dez anos voltado à inclusão social, emprego para mulheres, reconhecimento de comunidades beduínas não oficializadas, transporte público em cidades árabes e redução da violência.

Em 2015, durante a campanha eleitoral, o então chanceler Avigdor Lieberman disse que Odeh era um “cidadão palestino” e “não era bem-vindo em Israel”. Ele respondeu: “Sou muito bem-vindo na minha terra natal. Sou parte da natureza, do ambiente, da paisagem.” Frequentemente, Odeh cita Martin Luther King Jr. como uma de suas principais inspirações.

Ofer Cassif, 60 anos, é judeu e representa o Hadash na Knesset desde abril de 2019. Conhecido por ter sido “objetor de consciência” durante o serviço militar israelense, recusou-se a participar do que considerava “opressão e ocupação dos palestinos” — atitude que o levou à prisão quatro vezes. Após deixar o Exército, doutorou-se em filosofia política na London School of Economics, com a tese Sobre nacionalismo e democracia: um exame marxista. Cassif lecionou ciência política na Universidade de Tel Aviv e no Sapir Academic College.