
A historiadora Arlene Clemesha afirma que o judaísmo vive uma crise de consciência diante das ações de Israel em Gaza, que ela classifica como genocídio. Professora de história árabe na USP e diretora do Centro de Estudos Palestinos, Clemesha diz que a repressão aos palestinos gera desconforto até entre judeus, sobretudo pela tentativa do Estado israelense de se colocar como representante de todo o povo judeu.
“É possível perceber que, em certos grupos, existe uma tendência que a crítica ao Estado de Israel transborde para um sentimento contra judeus, à medida que o Estado de Israel se coloca como representante de todos os judeus do mundo, o que nem todos os judeus do mundo aceitam”, afirma. As declarações ocorreram durante entrevista ao podcast Ilustríssima Conversa, da Folha.
A análise de Clemesha parte também de sua pesquisa acadêmica, reunida no livro Marxismo e Judaísmo: História de uma Relação Difícil, relançado com novos capítulos. A obra discute como correntes marxistas e socialistas lidaram com a questão judaica até a Primeira Guerra Mundial, em um período marcado por formas distintas de antissemitismo e por um sionismo ainda incipiente.
Para a pesquisadora, a crítica a Israel não pode ser automaticamente confundida com antissemitismo. Ela alerta que o preconceito contra judeus continua existindo, mas que há tentativas de silenciar vozes críticas ao governo israelense usando esse argumento.

Clemesha defende a criação de um único Estado binacional, com igualdade entre judeus e palestinos, como solução possível para o conflito.
Apesar de admitir que o cenário atual é de descrença, ela considera a proposta a mais justa e viável a longo prazo, mesmo que hoje pareça inalcançável.
Israel nega as acusações de genocídio. Em defesa apresentada à Corte Internacional de Justiça, o país afirma que há uma guerra trágica em curso, mas que essa guerra não pode ser classificada como genocídio.
O Tribunal Penal Internacional, por sua vez, já expediu mandados de prisão contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e outras autoridades israelenses por crimes de guerra.
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