Genro de Malafaia vira campeão de emendas e causa crise em universidade do Rio

Atualizado em 26 de outubro de 2025 às 18:00
Anderson é casado com uma das filhas de Silas Malafaia — Foto: Reprodução

Casado com uma das filhas do pastor Silas Malafaia, o professor Anderson Silveira se tornou o principal captador de emendas parlamentares da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), mas sua atuação provocou uma crise interna na instituição. Um projeto coordenado por ele, o Programa Esporte Para a Vida Toda (PrevIT), recebeu R$ 14 milhões do Ministério do Esporte — mais que o dobro do segundo colocado em repasses à universidade. O caso levou à renúncia coletiva da diretoria da fundação de apoio responsável pela gestão dos recursos.

O Previt prevê 75 núcleos de atividades esportivas em mais de 20 municípios fluminenses, incluindo 14 instalados em igrejas, sendo 12 evangélicas e duas católicas. De acordo com apuração de O Globo, cabos eleitorais e aliados de deputados aparecem entre os beneficiados com bolsas do projeto, que destina R$ 11,7 milhões apenas para pagamentos de bolsas e auxílios. Entre os políticos envolvidos estão Laura Carneiro (PSD-RJ), aliada de Eduardo Paes, e Roberto Monteiro (PL-RJ), ligado ao governador Cláudio Castro.

A fundação Fapur, responsável por administrar os recursos, identificou “anomalias” no programa e alegou incapacidade de gestão, o que motivou a saída de toda a diretoria em agosto. Internamente, o projeto é visto como de baixo retorno acadêmico para a universidade, já que as ações se concentram fora do campus e priorizam comunidades religiosas e carentes. Anderson Silveira afirmou que o aumento das bolsas foi uma orientação do Ministério do Esporte, para evitar a devolução de recursos não utilizados.

Silas Malafaia em vídeo defendendo a anistia. Foto: reprodução

Em nota, a deputada Laura Carneiro confirmou ter pedido recursos para o projeto, mas disse que a execução foi de responsabilidade da UFRRJ. Já o deputado Roberto Monteiro, pai do ex-vereador cassado Gabriel Monteiro, foi citado em vídeos de pastores agradecendo sua atuação para levar o programa a comunidades de São Gonçalo. A universidade declarou que os critérios de seleção priorizaram “vivência em projetos sociais” e negou vínculos pessoais ou ideológicos.

O professor nega qualquer relação entre sua atuação e o parentesco com Malafaia. “Ele nem sabe que eu trabalho com isso”, afirmou Anderson, que reconheceu que parlamentares “podem sugerir regiões” para a instalação dos núcleos. Segundo ele, as igrejas foram escolhidas por oferecerem espaços adequados às práticas esportivas, sem motivação religiosa.

O episódio reacende o debate sobre o uso político de emendas parlamentares em instituições públicas de ensino e o avanço da influência religiosa em projetos financiados com recursos federais. A CPI mista do INSS, que apura desvios de verbas em associações e fundações, deve incluir o caso entre os pontos de atenção sobre o uso de dinheiro público por entidades universitárias.