Geração millennial registra avanço de câncer antes dos 50 anos

Atualizado em 22 de novembro de 2025 às 18:27
Mulher em tratamento de câncer é abraçada por homem. Foto: Reprodução

Entre adultos jovens, especialmente os millennials nascidos entre 1981 e 1996, há um crescimento preocupante na incidência de câncer. Esse fenômeno tem sido registrado globalmente, com dados apontando um aumento significativo dos casos entre 1990 e 2019. A constatação foi feita por especialistas em oncologia e entidades internacionais de saúde, refletindo um cenário que altera o padrão histórico da doença, antes vinculada principalmente ao envelhecimento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a American Cancer Society (ACS) mostraram que os casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos subiram quase 80%, enquanto as mortes cresceram cerca de 28%. O oncologista Carlos Gil Ferreira destaca que essa transformação traz consequências clínicas, sociais e emocionais importantes, mudando o perfil epidemiológico do câncer. Ele observa que fatores como obesidade, sedentarismo, alterações hormonais e avanço nos métodos diagnósticos estão relacionados a essa nova realidade.

Além disso, a exposição a poluentes, privação do sono e mudanças na microbiota intestinal contribuem para esse aumento de casos. Um exemplo emblemático é o câncer colorretal, cuja maior incidência entre jovens liga-se à dieta inadequada e inflamações intestinais. Outro ponto relevante são os tumores ligados ao HPV, que poderiam ter a incidência reduzida com a vacinação, ainda pouco adotada em muitos locais.

Nos consultórios oncológicos, a presença de pacientes jovens tem crescido, uma mudança notada pelo especialista Cristiano Resende. Ele aponta que hoje é comum atender pessoas na faixa dos 30 e 40 anos com cânceres que antes apareciam quase exclusivamente após os 60. Nesse contexto, o câncer de mama também registra aumento em mulheres jovens, impactando profundamente sua vida pessoal e profissional.

Mulher leva as mãos à cabeça enquanto toma vinho. Foto: Reprodução/Freepik

A detecção mais frequente não se deve apenas ao aumento de exames, mas a um real crescimento nos diagnósticos entre essa faixa etária. Os especialistas destacam que as causas são múltiplas, incluindo estilo de vida contemporâneo, obesidade, influências genéticas e alterações hormonais. O tratamento para esses pacientes jovens também apresenta desafios, como a preservação da fertilidade e o impacto financeiro.

O acesso ao tratamento avançado, disponível em parte pelo setor privado, ainda é desigual no Sistema Único de Saúde (SUS), o que pode prejudicar pacientes jovens com tumores agressivos. Os especialistas enfatizam a necessidade de políticas e ações voltadas à prevenção, diagnóstico precoce e ampliação do acesso a terapias, para lidar com essa nova realidade.

Essa mudança epidemiológica exige atenção das autoridades e da sociedade para entender as causas e desenvolver estratégias eficazes. O crescimento dos casos de câncer entre os millennials revela uma vulnerabilidade que até então não era tão evidente e reforça a importância de abordagens multidisciplinares e preventivas.

Lindiane Seno
Lindiane é advogada, redatora e produtora de lives no DCM TV.