Gerada por IA e disputada por agentes, atriz Tilly Norwood provoca terremoto em Hollywood

Atualizado em 1 de outubro de 2025 às 10:37
Tilly Norwood, atriz criada por IA — Foto: Reprodução/Instagram

O lançamento de Tilly Norwood, uma “atriz” criada por inteligência artificial, incendiou os bastidores de Hollywood. Desenvolvida por Eline Van Der Velden, do estúdio Particle6, Tilly foi apresentada ao público como uma jovem influenciadora digital, com perfil ativo no Instagram desde fevereiro, imitando a estética e a rotina de uma típica integrante da Geração Z.

Mas, longe de ser apenas um experimento criativo, a iniciativa levantou preocupações entre atores e atrizes reais, que veem na tecnologia uma ameaça direta ao seu espaço de trabalho.

Van Der Velden tentou conter a polêmica afirmando que Tilly “não pretende substituir atores humanos, mas é uma obra criativa, comparável a animação ou CGI”. Ainda assim, muitos artistas não se convenceram.

Medo de substituição e uso sem consentimento

A presença de personagens gerados por IA intensifica os receios de que o cinema caminhe para produções sem participação humana. Autores, diretores e intérpretes argumentam que seus trabalhos foram usados para treinar modelos de IA sem autorização nem remuneração.

Mara Wilson, conhecida por papéis em Matilda e Uma Babá Quase Perfeita, criticou diretamente um post de Tilly: “Você não fez isso. Centenas de trabalhadores reais — fotógrafos, operadores de câmera, até agricultores — fizeram isso. Você pegou o trabalho deles e fingiu que era seu.”

Batalhas jurídicas em andamento

O desconforto já chegou às cortes. Em junho, Disney e Universal processaram a Midjourney por usar material de suas obras sem permissão no treinamento de IA. Poucas semanas depois, a Warner Bros. entrou com ação semelhante.

A OpenAI, por sua vez, informou recentemente agências de talentos e estúdios sobre atualizações em seu gerador de vídeo Sora, reconhecendo que o sistema pode usar conteúdos protegidos por direitos autorais, a menos que o detentor opte pela exclusão.

Indústria dividida

As preocupações não são novas: em 2023, greves históricas de roteiristas e atores já haviam colocado o uso da IA no centro da pauta, resultando em acordos que limitavam o uso de ferramentas sem autorização. Contudo, esses pactos não impedem que outras empresas explorem dados disponíveis na internet para alimentar suas IAs.

Figuras conhecidas também reagiram com indignação. Sophie Turner (Game of Thrones) escreveu: “Uau… não, obrigada.” Cameron Cowperthwaite chamou a iniciativa de “irresponsável e perturbadora”, enquanto Ralph Ineson foi ainda mais direto: “F-se.”*

Um futuro incerto

O caso Tilly Norwood expõe um dilema crescente: como a indústria do entretenimento pode adotar novas tecnologias sem desvalorizar a contribuição de profissionais humanos? As decisões dos tribunais nos próximos meses podem ser determinantes para o futuro do cinema na era da inteligência artificial.