“Gestão empresarial” de Doria não muda realidade de pobres em São Paulo

Atualizado em 28 de novembro de 2018 às 18:45
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Publicado originalmente na Rede Brasil Atual

Um ano depois do início da “gestão empresarial” do ex-prefeito e governador eleito do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), a desigualdade social na capital paulista se aprofundou, em comparação com 2013, primeiro da gestão de Fernando Haddad (PT).

É o que revela o Mapa da Desigualdade 2018, lançado hoje (28) pela Rede Nossa São Paulo, que compila dados do ano de 2017. “A cidade persiste na desigualdade. São 77 distritos, ou 87% da população vivendo em territórios marcados pela exclusão social”, lamentou a doutora em assistência social e pesquisadora Dirce Koga, coautora do Mapa da Exclusão e Inclusão Social de São Paulo.

Mesmo os índices que tiveram melhora mantêm níveis alarmantes de desigualdade, sobretudo na relação entre a região nobre central e as periferias sul, norte e leste. “É preciso que todo gestor público atue para combater as desigualdades. Mas, até hoje, não conseguimos que a prefeitura divulgue a execução do orçamento regionalizada por distrito. O que possibilitaria a cobrança, questionar por que coloca dinheiro aqui e não ali. O investimento da verba pública é um caminho fundamental para combater as desigualdades”, afirmou o presidente do conselho da Oxfam Brasil, o empresário Oded Grajew.

Um dado que apresentou melhora, mas segue sendo um exemplo da situação é a idade média ao morrer. A expectativa média de vida de um morador do Jardim Paulista, região nobre da cidade conhecida como Jardins, é de 81 anos. Já no extremo leste da capital paulista, em Cidade Tiradentes, a expectativa média é de apenas 58 anos. No ano passado, a expectativa era de 79 e 55 anos, respectivamente. A expectativa mais baixa é quase a mesma para moradores do Grajaú, Parelheiros, Campo Limpo (zona sul), Perus (zona norte) e Guaianases (zona leste). São até 23 anos de vida a menos para um morador da mesma cidade.

No caso dos leitos hospitalares, 29 distritos continuam sem ter nenhum hospital. Dentre os que possuem ao menos uma unidade de pronto atendimento, o distrito de São Rafael, na zona leste, tem a pior situação: apenas 0,04 leito para atender cada grupo de 10 mil habitantes. Situação oposta à da Bela Vista, na região central, que tem 48 leitos para cada 10 mil habitantes.

As crianças nascidas com baixo peso, menos de 2,5 quilos, estão em quase toda a cidade. Segundo o mapa, entre 7,5% e 12% das crianças nascidas na cidade estão nessa situação. As exceções são os distritos de Pari, Brás e Santa Cecília, onde a taxa é inferior a 7,5%. O índice de desigualdade piorou 11,2% na comparação com 2013.

O tempo de espera por consultas médicas continua alto na capital paulista. A população da maior parte dos distritos tem de esperar entre 36 e 108 dias para conseguir uma consulta. Os piores são: Anhanguera, Brasilândia e Mandaqui, na zona norte; São Miguel, Guaianases, Iguatemi e São Rafael, na zona leste; Grajaú e Capela do Socorro, na zona sul; e Vila Leopoldina, na zona oeste.

Na educação, a espera por vaga em creche segue sendo um problema para moradores da maior parte das zonas sul, norte e, em menor grau, na zona leste. O tempo de espera por uma vaga vai de cem a 300 dias na maior parte da cidade, chegando a até 400 dias em Pedreira e Cidade Ademar, na zona sul, e Vila Andrade, na zona oeste. Apesar disso, as periferias contam com os maiores índices de atendimento em creche, com a maior parte dos distritos tendo entre 86% e 99% da demanda atendida.

O número de “zeros” da cidade segue na mesma proporção dos anos anteriores. São 53 distritos sem nenhum espaço cultural, 37 sem bibliotecas para adultos e 36 para crianças, 42 sem teatros, 11 sem qualquer equipamento esportivo público e cinco sem nenhuma unidade básica de saúde.