Gilmar Mendes tem razão: “Imprensa foi parte do esquema e relações públicas dos cruzados curitibanos”

Atualizado em 9 de fevereiro de 2021 às 19:43
Gabeira e Dallagnol com a fundadora do Vem Pra Rua do RJ no lançamento do livro do procurador

Sergio Moro e a Lava Jato sofreram nesta terça-feira sua maior derrota no STF com a decisão da Segunda Turma de permitir o acesso de mensagens da Operação Spoofing à defesa de Lula.

Com placar de 4 a 1, o Supremo decidiu validar a decisão do relator Lewandowski. Gilmar Mendes, Kassio Nunes Marques e Carmém Lúcia o seguiram.

Ainda que recalcitrante, Cármen começa a se livrar do lavajatismo. Sobrou o velho Edson Fachin — por enquanto.

Coube a Gilmar o massacre da operação.

No final, desossou a República de Curitiba: leu de forma teatral os diálogos, deu estocadas na “doutora Cláudia” (Sampaio Marques, subprocuradora geral da República, que fez uma defesa indefensável de seus colegas), comparou a turma à Stasi, o serviço secreto da Alemanha Oriental.

Ainda espancou a mídia: “A imprensa se comportou como parte integrante do esquema, relações públicas dos cruzados curitibanos, totalmente acrítica”, disse.

“Tudo isto não se realizaria sem um tipo de cumplicidade da imprensa. Este modelo de estado totalitário se desenhou teve a complacência da mídia”.

É isso que vimos denunciando no DCM desde 2014.

Repito aqui o que escrevi sobre esse conciliábulo, resumindo a atuação vergonhosa da imprensa:

Quantas capas a Veja dedicou a Moro? 

A Globo chegou a montar uma “sala de guerra”, a mando do diretor de jornalismo Ali Kamel, para lidar com as delações que inundavam a emissora.

Montada em 2017, tinha lugar para 22 pessoas. 

“O resultado do trabalho dessa equipe, liderada por Ricardo Villela quando diretor de Brasília, foi magistral: sabíamos de tudo sobre todos. E assim a TV Globo deu furo atrás de furo naquela cobertura histórica”, escreveu Kamel num e-mail.

Visto em retrospectiva, soa neste momento como a confissão de um crime.

A condução coercitiva de Lula foi antecipada pelo então redator-chefe da Época, Diego Escosteguy (hoje à frente de um blog que ninguém lê).

De acordo com o Intercept, Deltan achou “tesao demais essa matéria do O GLOBO de 2010. Vou dar um beijo em quem de Vcs achou isso.”

A matéria referida era Caso Bancoop: triplex do casal Lula está atrasado, a primeira a tratar do apartamento.

“Conversei com a TATIANA FARAH DE MELLO, que fez a reportagem em 2010 sobre o TRIPLEX. Ela realmente confirmou que foi para GUARUJA e lá colheu diversas informações sobre os empreendimentos da BANCOOP”, diz o procurador Januário Paludo.

No comitê central, Míriam Leitão nunca poupou elogios a Moro.

Seu filho, Vladimir Netto, escreveu um livro laudatório sobre a coisa toda que ficou no topo das listas de best sellers por meses.

Segundo Vladimir conta em seu opúsculo, Moro exibia “rigor e coragem” ao conduzir os casos “com maestria”.

O maringaense era também parte de uma geração “que trabalha com afinco em busca de resultados”.

Vê-se agora o verdadeiro resultado dessa trabalheira.

Jair Bolsonaro está aí. Moro foi ministro.

O Brasil aguarda ansiosamente a autocrítica dessa turma — que não virá.