
À frente da articulação política do governo Lula (PT), a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, recebeu o aval do presidente para dar início a uma reorganização da base no Congresso Nacional, com cortes de cargos de parlamentares de partidos do Centrão. A reorganização, segundo a ministra, foi iniciada após a derrota do governo na medida provisória que trazia alternativas de arrecadação à alta do IOF. A MP perdeu a validade sem ser votada pela Câmara dos Deputados.
“Vamos reorganizar a base do governo e fazer as mudanças necessárias, com muita responsabilidade. Mas quem quiser estar no governo deverá ser voto do governo no Congresso”, disse Gleisi à coluna de Igor Gadelha, no jornal Metrópoles.
De acordo com a ministra, o corte de cargos vai atingir partidos com o PP de Ciro Nogueira; o PSD de Gilberto Kassab; o Republicanos do presidente da Câmara, Hugo Motta (PB); e até o MDB. “Vamos tirar cargos de todos que votaram contra o governo na MP”, disse.
Gleisi afirmou que Lula “está ciente das mudanças que estamos fazendo”. “Vamos avaliar todos os órgãos, vamos fazer de forma responsável, cobrando posição de quem estiver na base do governo, que será reorganizada”, ressaltou a ministra. Algumas demissões já começaram a ser efetivadas.
Na semana passada, por exemplo, lideranças do PP e do PSD perderam cargos na Caixa Econômica Federal e no Ministério da Agricultura, por ordem de Gleisi. Emedebistas também perderam cargos no Dnit.

O governo Lula iniciou, na sexta-feira (10), uma série de exonerações de aliados de deputados que votaram contra a medida provisória que previa aumento de impostos para ampliar a arrecadação federal. As demissões, publicadas no Diário Oficial da União, marcam a primeira ação de retaliação do Planalto após a derrota da MP, considerada crucial para o equilíbrio fiscal de 2026.
Cinco superintendentes regionais de ministérios ligados ao MDB e ao PSD foram desligados. Entre os cargos atingidos estão os das superintendências do Ministério da Agricultura no Pará, Paraná, Minas Gerais e Maranhão, além da chefia do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em Roraima.
As exonerações provocaram insatisfação no PSD, que votou dividido — 20 deputados a favor e 18 contra a MP. No MDB, o placar também se dividiu, com 16 votos a favor e 14 contrários. A legenda de Gilberto Kassab criticou o governo por agir “sem estratégia”, mesmo tendo sido uma das que mais apoiaram o texto. Além dos ministérios, demissões também atingiram cargos na Caixa Econômica Federal e nos Correios.
Também foram afastados Rodrigo de Lemos Lopes, aliado do vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), e José Trabulo Junior, próximo ao presidente do PP, Ciro Nogueira.
Lopes ocupava a Vice-Presidência de Sustentabilidade e Cidadania Digital da Caixa e será substituído interinamente por Jean Rodrigues Benevides, diretor executivo da área. Já Trabulo Junior atuava como consultor do presidente do banco, Carlos Vieira, desde setembro de 2024, e integrava o Conselho Fiscal da Caixa Corretora, subsidiária do banco.
As demissões são vistas como uma resposta direta ao revés imposto pelo Centrão ao Palácio do Planalto. A medida provisória barrada previa R$ 20,9 bilhões em receitas extras para 2026, mas o valor já havia sido reduzido para R$ 17 bilhões após mudanças feitas pelo relator, deputado Carlos Zarattini (PT-SP).