Uma das maiores jornalistas da história da televisão brasileira morreu e não se pôde falar muito sobre ela – ou ao menos não na emissora em que ela trabalhou por mais de cinquenta anos.
Isso porque os chefes do jornalismo da Rede Globo enviaram e-mails para a equipe com orientações bem claras para a cobertura dessa notícia tão triste: nada de detalhes sobre a vida de Glória Maria e nenhuma menção à sua idade, para respeitar a memória da falecida.
Tudo bem: a brilhante carreira da jornalista é mais do que suficiente para imortaliza-la, e deu conta de todas as belíssimas homenagens que lhe foram rendidas pela Globo em seus programas e redes sociais.
Mas censurar colegas para esconder a idade da mulher depois de morta?
Isso é um pouco demais.
Muitos dos colegas que a homenagearam, emocionados, nos programas da Globo, não puderam expor com verdade as lembranças que compartilharam com a Gloria Maria mulher, porque foram censurados mesmo em um momento de tamanha dor e comoção.
É necessário respeitar, sempre que possível, a memória de uma falecida? Sim. É moralmente permitido censurar centenas de jornalistas em prol disso? Não, não é.
Com toda certeza, os colegas mais próximos de Gloria Maria gostariam de ter compartilhado com o público detalhes de sua personalidade, das histórias que viveram juntos, da potência pessoal que foi a Gloria mulher.
Mas, graças a uma decisão obtusa, foram impedidos de fazê-lo. Alguns, talvez por isso, ficaram sem palavras.
Tirar as palavras de alguém que estar de luto é uma das coisas mais cruéis que se pode fazer com o próximo.
Mas a Globo, nós sabemos, sempre foi chegada em uma censura, desde 64. É fácil, para a Globo, censurar, mesmo sob argumentos ridículos e inaceitáveis, doa a quem doer.
De que adiantam homenagens tão bonitas se a verdade sobre alguém não puder ser dita? Quantos minutos de silêncio supririam as palavras abafadas pela censura?
A Globo não se importa.
E nós? Nós continuamos sem conhecer a intimidade do ícone que foi Glória Maria, e seus colegas seguem com um nó na garganta por tudo o que não puderam dizer.
A censura da Globo não respeita sequer a morte.