Globo desvia o foco do escândalo revelado pelo Intercept para proteger cúmplices na Lava Jato

Atualizado em 11 de junho de 2019 às 13:55

Se não pode defender, confunda. É assim que a Globo age no caso das conversas secretas reveladas pelo site The Intercept Brasil. A manchete do jornal fala por si:

“Conversa de Moro com procuradores e ação de hackers serão investigadas”.

Ou seja, a Globo coloca em situação de igualdade dois fatos que têm impacto diferente na vida das pessoas.

Um diz respeito a um direito individual, o dos procuradores e de Moro.

O outro tem relação com a vida de todos e sobre os limites de atuação de agentes públicos que agem em nome do Estado.

Em outras palavras, é o direito individual contra o direito coletivo.

A Globo sabe a diferença, como demonstrou na divulgação do grampo de Dilma Rousseff, autorizada por Moro. Naquela ocasião, entretanto, deu de barato que não era crime de Moro e focou no conteúdo da mensagem — que não revelou nada de ilegal.

A manchete era escandalosa e o diálogo entre Dilma e Lula ocupava quase a primeira página inteira. Ajudou a manter acesa a chama do golpismo, que seria consolidado alguns meses depois com o impeachment sem crime de responsabilidade.

No Jornal Nacional de ontem, a Globo já tinha dado o tom de que pretende minimizar até onde conseguir os diálogos entre Moro e Dallagnol, estes sim reveladores de uma grave violação ao direito.

Andrew Downie, correspondente escocês na América Latina, escreveu no Twitter:

“Erro grande, grave e triste do Jornal Nacional hoje, dando mais tempo para Dalton Dallagnol, Sérgio Moro e as associações dos juizes e procuradores para negar as acusações contra eles do que focar nas gravíssimas acusações em si.”

Glenn Greenwald, co-fundador do The Intercept, respondeu:

“A Globo é sócia, agente e aliada de Moro e Lava Jato – seus porta-vozes – e não jornalistas que reportem sobre eles com alguma independência. É exatamente assim que Moro, Deltan e a força-tarefa veem a Globo. Então não esperem nada além de propaganda.”

E acrescentou, mostrando a capa da edição de hoje de O Globo:

“Por exemplo: essa manchete de O Globo é difícil de acreditar. A estratégia da Globo é a mesma que os governos usam contra aqueles que revelam seus crimes: focar em como as infos foram obtidas e ignorar as revelações. Eles mal mencionaram as impropriedades de Moro.”

A Globo poderia ter aprendido com Moro —  o farsante que transformou o herói –, conforme declaração dele em entrevista recente a Pedro Bial. Defendendo seu trabalho como juiz, por ter divulgado a conversa de Dilma, o ex-juiz afirmou:

“O problema não era a captação do diálogo e a divulgação do diálogo, mas o conteúdo do diálogo em si”.

O problema para a Globo é que os diálogos em si, no caso de Moro, compromete o jornal, que é cúmplice da condenação sem provas de Lula, como veículo que publicou a reportagem porca que atribuiu ao ex-presidente a propriedade de um triplex no Guarujá, em 2010, ecoando boatos que circulavam pela cidade.

Se os jornalistas do grupo se limitarem a divulgar fatos ou interpretá-los com isenção, terão que reconhecer a própria culpa e desmontar uma farsa que desgraçou o Brasil.