Globo faz campanha contra Celso Amorim e o culpa, indiretamente, pelo suposto soco em Delis Ortiz

Atualizado em 5 de junho de 2023 às 18:35
Luiz Inácio Lula da Silva e Celso Amorim. Foto: Reprodução

A Globo está em campanha contra Celso Amorim, assessor especial da Presidência e chanceler nos dois primeiros mandatos de Lula.

Amorim seria o guru do presidente, uma espécie de Pigmalião que manda Lula “apoiar ditadores” e é responsável, indiretamente, pelo soco que Delis Ortiz alega ter tomado numa entrevista com Maduro na semana passada.

Na GloboNews, a própria Delis apontou o dedo para ele ao falar sobre essa ascendência. “Emocionalmente, fisicamente, politicamente [quem tem mais influência sobre Lula] é Celso Amorim, que está praticamente dentro do gabinete, já foi ministro das Relações Exteriores, ministro da Defesa, é amigo pessoal de Lula”, disse a uma aparvalhada Andréia Sadi.

Segundo Delis, Amorim é “da mesma linha” do falecido Marco Aurélio Garcia, seu antecessor no cargo. Garcia, lembra Andréia, atuou especialmente “na aproximação do Brasil com o país de Hugo Chávez”.

Morto em 2017 aos 76 anos, MAG era odiado pela mídia e tratado como inimigo figadal por causa de sua proximidade com Chávez, algo que nunca escondeu e esgrimia sempre que necessário quando questionado pelos setores reacionários.

O mal-estar com Amorim ficou patente nas patadas que ele levou de um desequilibrado Guga Chacra, que o atacou por causa da guerra da Ucrânia. De dedo em riste, Chacra exigia “explicações” do ex-chanceler para não visitar Kiev (coisa que fez logo depois, aliás).

No Globo deste domingo (4), uma matéria traz a tese de que Lula é “cercado por ‘dois chanceleres’ na prática, os embaixadores Mauro Vieira e Celso Amorim“.

Vieira é bom — ou seja, segue o script  da Casa Branca — e Amorim é mau — leia-se um esquerdista alinhado à Rússia e à China. “Hoje, Amorim está do outro lado da Esplanada e tem um peso ainda maior do que Marco Aurélio, por ser um diplomata de carreira”, afirma o jornal dos Marinhos.

Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, que também chefiou embaixadas nos EUA e na Itália, faz coro: “Vejo agora uma situação muito mais desequilibrada, porque Amorim, na prática, juntou as funções de Marco Aurélio com as de chanceler de fato. No fundo, quem aparece é ele, inclusive por ter organizado uma assessoria muito forte com gente de valor”.

Por trás da “análise”, fica o recado para Celso Amorim se endireitar porque, senão, vai apanhar de chinelo da “imprensa livre” — aquela que não admite que se fale ou pense da Venezuela sem autorização da casa.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.