Globo, que se calou sobre censura a Nassif, é proibida de noticiar rachadinhas de Flávio

Atualizado em 5 de setembro de 2020 às 15:48

Publicado originalmente na Rede Brasil Atual:

Por Paulo Donizetti de Souza

Foram tímidas as referências da mídia comercial à censura imposta ao jornalista Luis Nassif. Diante do arbítrio – contra as matérias do Jornal GGN sobre as relações suspeitas entre os bancos BTG e BB –, a imprensa se calou, observou o professor Laurino Lalo Leal Filho em seu comentário semanal De Olho na Mídia, no canal do Barão de Itararé. Para Lalo Leal a imprensa corporativa faz um jogo arriscado ao não denunciar a censura – a mesma censura da qual poderá vir a ser vítima. E não se passaram muitas horas entre o alerta do professor e a censura da Justiça do Rio de Janeiro bater à porta da Globo. Foi ontem (4). A Globo foi proibida de revelar documentos da investigação contra Flávio Bolsonaro.

A juíza Cristina Serra Feijó, da 33ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, acolheu a um apelo do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e proibiu a Globo de dar notícia envolvendo o filho do presidente e o esquema das “rachadinhas”. Um nome suave para o ato de integrantes da família Bolsonaro e políticos aliados. Porque o que crime cometido com dinheiro público não é nada suave: empregar funcionários fantasmas em gabinetes legislativos e fazer caixa com o salário deles. Segundo as denúncias, o funcionário não precisa aparecer para trabalhar. Apenas repassa parte do salário para os políticos “de bem”, e fica com uns trocados. Nessa “rachadinha”, o cidadão entra com o dinheiro. E os políticos, com o Bolso.

Censura no jornal dos outros não é refresco

Para a imprensa comercial, que sempre tratou a censura no jornalismo dos outros* como se fosse refresco, fica o alerta. Aliás, duplo alerta. Um: não se calarás diante da censura e do arbítrio, ainda que atinja um veículo que não goste. Dois: não serás cúmplice de juízes que atuam politicamente, ainda que seus desvios éticos atendam a conveniências ideológicas e comerciais dos donos de jornais.

Desde meados da década passada a mídia corporativa vinha sendo tolerante com o “engajamento” político de setores do Judiciário. Para vender jornais e revistas, iludir um público que se alimenta de falso moralismo, ampliar a audiência, cativar anunciantes e interferir nos rumos da nação fora da trilha da democracia. A parceria de juízes e procuradores com veículos de imprensa beirou a cumplicidade. Enquanto uns riscavam o fósforo da Lava Jato, por exemplo, os donos da mídia entravam com o querosene. E agora, com o fósforo e o querosene nas mãos de outrem?