Globo reconhece polarização entre Lula e Bolsonaro e não vê espaço para 3ª via

Atualizado em 14 de maio de 2021 às 10:15
Bolsonaro e Lula. Foto: Reprodução/InfoMoney

A Globo está num mato sem cachorro.

Apostou no golpe e o resultado foi Bolsonaro. Apostou em Moro e o resultado foi a desmoralização da Lava Jato levando junto parte do sistema judiciário.

Para piorar, o mundo mudou e o sistema de negócios da empresa já não é aquela Brastemp. A Globo virou um paquiderme em meio a uma conjuntura desruptiva que vê a empresa como velha e lenta.

Mas o pior não é isso. É não ver luz no fim do túnel. Como depende cada vez mais do governo, precisa de um aliado no Planalto e essa possibilidade está cada dia mais distante, como reconhece em Editorial nesta sexta, 14.

Não há terceira via para a sucessão presidencial do ano que vem.

O que existe é a polarização entre Bolsonaro e Lula, com vantagem para o segundo. O céu não é de brigadeiro no Jardim Botânico.

Leia o Editorial de O Globo:

Apenas dois em cada cinco brasileiros dizem saber em quem votarão nas eleições de 2022, segundo a última pesquisa DataFolha. Com quase 60% dos votos indefinidos, qualquer análise dos números é prematura. Ainda assim, lidos com o devido cuidado, eles pintam um quadro que favorece o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é bastante ruim para o presidente Jair Bolsonaro e dificílimo para qualquer candidato que até agora tenha se apresentado como terceira via entre os dois.

Colocados diante das opções, 41% dos eleitores escolhem Lula (espontaneamente, 21%) e 23%, Bolsonaro (espontaneamente, 17%). Num segundo turno entre os dois, a distância chega a 23 pontos percentuais, patamar confortável para a vitória lulista caso a eleição fosse hoje. Mais importante, Bolsonaro é rejeitado por 54% do eleitorado, maior taxa entre todos os candidatos e número que, se mantido, inviabilizaria a reeleição. O voto lulista se concentra entre os nordestinos, os que têm nível fundamental de escolaridade, os que ganham até dois salários mínimos. O bolsonarista, entre empresários, entre quem ganha entre 5 a 10 salários mínimos e entre habitantes da Região Sul.

O mesmo Datafolha constatou queda de seis pontos percentuais na aprovação de Bolsonaro, que atingiu o patamar mais baixo desde o início do governo (24%). A reprovação chegou a 45% do eleitorado, mesmo nível do auge da pandemia em junho de 2020. Outra pesquisa, do PoderData, traça um cenário um pouco mais favorável a Bolsonaro, que aparece empatado com Lula em intenções de voto, embora seja derrotado por uma diferença de 15 pontos no segundo turno. Nessa sondagem, ambos são rejeitados pela mesma quantidade de eleitores, aproximadamente metade da amostra.

Independentemente do termômetro usado, não há dúvida de que a gestão desastrosa da pandemia atingiu em cheio a imagem do presidente, hoje dependente dos grupos mais fiéis de eleitores. Nem de que o principal beneficiário desse descontentamento até agora tem sido Lula, que recuperou seus direitos políticos e voltou a reconquistar grupos de eleitores que o PT perdera, em particular os mais pobres.

A questão que as pesquisas deixam em aberto é se algum nome será capaz de romper a polarização entre Lula e Bolsonaro. Até o momento, a resposta é negativa. Dos apresentados ao eleitor, os de maior expressão são o ex-juiz Sergio Moro e o ex-ministro Ciro Gomes (com 7% e 6%, respectivamente, no Datafolha). Na pesquisa espontânea, apenas Ciro aparece, com 2%. Todos os demais são quase ignorados, embora vários tenham potencial de voto evidente, seja pela notoriedade, seja pelos baixos índices de rejeição.

Construir uma terceira via com tanta gente pleiteando o posto não será tarefa trivial. O primeiro desafio é tentar unir todos os que se opõem a Lula e Bolsonaro em torno de um só nome — pois não haverá espaço para dois numa disputa já polarizada. Iniciativas adotadas por Ciro ou pelo governador paulista, João Doria, têm até o momento tido pouco efeito na mente do eleitor. A insatisfação com Bolsonaro tem sido canalizada para Lula.

É verdade que ainda é cedo para saber se o quadro desenhado pelas pesquisas perdurará até o início da campanha eleitoral. Tudo pode acontecer. Mas, se alguém tiver a intenção de se apresentar como alternativa viável à polarização, o tempo está se esgotando.