Globo se distancia ainda mais do Brasil ao censurar Lula/Haddad na sabatina do JN. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 27 de agosto de 2018 às 12:35
William Bonner segura a arma do eleitor contra a censura do JN. Foto: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O Jornal Nacional, da Rede Globo, começa hoje a entrevistar os candidatos a presidente, mas não incluiu entre os convidados um representante da chapa que lidera as pesquisas, a de Lula e Haddad.

Abre com o nanico Álvaro Dias e deve seguir com outros nanicos até o fim de semana. O único candidato que tem mais de um dígito nas pesquisas, além de Lula/Haddad, é Jair Bolsonaro, que foi convidado para a sabatina de William Bonner.

A estratégia da Globo de ignorar a chapa do PT pode ter efeito contrário. Nas redes sociais, a crítica à emissora é grande e tende a aumentar.

O jornalista Xico Sá foi um dos formadores de opinião que se manifestaram, através do Twitter.

“Ao não contemplar o PT no Jornal Nacional de 2018, a Rede Globo talvez esteja repetindo, por elipse, a edição criminosa q fez do debate de 1989 de Lula x Collor”, escreveu.

Desabafou:

“Na buena, é muita escrotidão, muita mesmo, seja da Globo ou de quem q seja, falar de vários candidatos e não citar o líder de todas as pesquisas, Lula da Silva, não sei o q passa por essa gente q fode a democracia impunemente.”

A indignação de Xico Sá é a mesma de milhões de pessoas e, exatamente por isso, é que a Globo pode ter pegado o bonde errado. Esconder Lula prejudica muito mais a emissora do que a candidatura do PT.

Quando a Globo publicou a edição desonesta do debate entre Lula e Collor, no Jornal Nacional, não havia a internet.

Hoje, o público tem acesso às informações sobre a candidatura de Lula em sites como o DCM.

Arrisco dizer que não existe um eleitor que não saiba que Lula é candidato. E este eleitor, ao ver o Jornal Nacional ou tiver notícia da sabatina, se perguntará: Por que não ouvem o Lula?

Se disser algo, Bonner citará que o candidato do PT está preso em Curitiba e, por isso, não pode ser entrevistado. Lembrará que, pela lei da ficha limpa, é inelegível.

Não explicará que a condenação em segunda instância não é um critério absoluto de inelegibilidade — se houver “plausibilidade” de recursos, como diz a lei, pode ter o registro deferido, ainda que precariamente.

Também não informará que jamais pediu à Justiça em Curitiba autorização para entrevistar Lula no cárcere, como fez em outros casos, com criminosos confessos, caso do Maníaco do Parque, o motoboy Francisco de Assis Pereira.

O DCM pediu autorização para entrevistar Lula, a juíza negou, mas o pedido está lá e deve ser renovado. Já a Globo, até onde se sabe, praticou a auto-censura.

Se, esgotados os recursos a seu alcance e não pudesse entrevistar Lula, não seria mais honesto da parte da Globo chamar Haddad, o candidato a vice?

Fico imaginando como se comportaria uma TV dos Estados Unidos, da França, Alemanha ou da Inglaterra, com democracias consolidadas: ignorariam o candidato que lidera as pesquisas?

Alguém poderá dizer que, nestes países, um condenado em segunda instância não se candidataria.

Mas, nestes países, um ex-presidente jamais seria julgado por um juiz que agiu como promotor e jamais haveria uma sentença condenatória em que não é apresentada a prova de crime nem sequer descrição de um ato criminoso.

Muito menos haveria julgamento em meio a um clima de linchamento por parte da mídia hegemônica, incluindo aí as concessionárias de serviço público.

Jogo jogado.

A Globo fará as sabatinas sem Lula e Haddad.

Em 1989, a desonestidade jornalística ajudou Fernando Collor.

Em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso teve vida fácil — em 1998, a Globo nem promoveu debate. Mas, depois disso, a emissora já não teve o mesmo êxito.

Foi a partir daí que a internet começou a crescer. Mas talvez isso não explique tudo. O PT venceu as eleições porque é percebido como o governo que, efetivamente, dá atenção aos mais pobres.

E, na democracia, o voto do pobre tem o mesmo peso do voto do rico ou da classe média. E, como o Brasil tem muito mais pobre do que rico, a vitória de Lula é uma questão matemática.

Some-se a isso que setores expressivos da classe média apoiam Lula, e o êxito nas urnas é ainda mais provável.

A Globo, entanto, em defesa de seus interesses, seguirá na sua campanha para derrotar Lula, mas é difícil que consiga.

A Justiça, poder em que ela tem grande influência, poderá barrá-lo, deve barrá-lo, mas esse movimento que faz as pessoas saírem de casa para gritarem Lula Livre só vai crescer.

Ao censurar a candidatura de Lula/Haddad, a Globo escancara que a prisão de Lula e o veto à sua candidatura não passam de perseguição.

Não tem nada a ver com justiça. Nem democracia.