Para Glória Maria, o racismo é dor e amargura de cada um. Por Moisés Mendes

“Se nessa altura da minha vida, eu for sentir pelo racismo do (contra o) outro, aí eu tô maluca”, disse a jornalista no Roda Viva

Atualizado em 15 de março de 2022 às 8:05
Glória Maria
Glória Maria. Foto: Reprodução/YouTube

A entrevista de Glória Maria ao Roda Viva foi um desastre pessoal e uma tragédia para os que contam com a voz das celebridades para reforçar o combate ao racismo.

Para a jornalista da Globo, o racismo enfrentado pelo “outro” (ela se referiu às outras pessoas negras como “o outro”) não é problema dela, porque ela sabe se blindar.

Se fosse preciso resumir, esse seria o resumo do que foi dito pela jornalista. O racismo enfrentado pelo outro é uma questão individual, de cada um.

Gloria Maria, com a sua blindagem de celebridade da TV, está protegida até contra “a dor do outro”.

Essa frase é a síntese:

“Hoje pra mim não dói, porque eu aprendi e continuo me protegendo. Hoje, nada me faz sofrer, porque eu aprendi a me autoblindar”.

E depois disse mais esta:

“Se nessa altura da minha vida, eu for sentir pelo racismo do (contra o) outro, aí eu tô maluca”.

Que o outro, disse ela, “resolva o racismo dele, com a dor dele, com a amargura dele, porque a amargura é uma questão de horror, que ele se resolva sozinho”.

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Glória Maria e o racismo

A apresentadora do Globo Repórter fugiu de todas as tentativas, mesmo que sutis, das entrevistadoras para que ela se colocasse como a mulher famosa que pode assumir a defesa de mulheres negras desprotegidas.

É frustrante, mas o certo seria absorver essas declarações como coisas previsíveis. Gloria Maria sempre deu a entender que sabe lidar com o racismo como desafio particular, e repetiu isso no Roda Vida.

E que as mulheres que não sabem enfrentá-lo terão de aprender, como ela ensina às suas filhas, que já enfrentaram casos de racismo no colégio. Uma delas foi chamada de macaca.

Gloria Maria é uma resignada com a situação alheia, porque nunca haverá, como ela mesmo definiu, ”um blindamento universal” para proteger a mulher negra.

E ainda observou que a situação da mulher negra é terrível porque “homem preto não quer mulher preta”.

E deixou claro que não sairia nunca numa passeata contra o racismo, porque não se submeteria a esse constrangimento.

Gloria Maria é uma pessoa simplória. Mas as negras e os negros do Brasil têm o direito de se sentir frustrados.

Uma celebridade não precisa fazer militância pela negritude, mas poderia dizer, pelo poder que tem, que pelo menos está ao lado das mulheres pobres que sofrem por serem negras.

Este talvez tenha sido o pior trecho da entrevista, quando a jornalista comentou a situação das filhas, que frequentam escolas de brancos ricos:

“Hoje nada me faz sofrer, porque eu aprendi a me autoblindar. Estou ensinando minhas filhas a terem a mesma coisa, porque as duas estudam em escolas diferentes, mas escolas de elite. Eu sou conhecida, mas não são todos os amigos que sabem que elas são filhas de uma mulher conhecida”.
.
Gloria Maria acha que, se as filhas dessem um carteiraço e deixassem claro de quem são filhas, a vida delas seria mais leve. Elas sofrem racismo porque muitos coleguinhas não sabem que a mãe delas é famosa.

E as filhas das negras que não são estrelas da Globo? Essas que cuidem das suas dores e das suas amarguras.

Confira a entrevista abaixo:

Por Moisés Mendes, em seu blog.

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