Se o gênio de Brian Wilson, morto hoje aos 82 anos, pudesse ser resumido em uma canção, a escolha seria “God Only Knows”.
O cantor e compositor, líder dos Beach Boys, escreveu essa maravilha aos 23 anos. Sim, 23. Está no álbum “Pet Sounds”, de 1966, juntamente com outras pérolas.
Paul McCartney a chamou de “a maior música já escrita”. “É uma das poucas músicas que me fazem chorar toda vez que a ouço. É realmente apenas uma música de amor, mas é feita de maneira brilhante. Ela mostra o gênio de Brian”, disse.
“God Only Knows” é uma obra-prima de harmonização vocal e uma ousada experimentação de gênero: uma balada suave subvertida com instrumentação inovadora que consegue ser uma mistura de euforia, calma e êxtase — assim como a paixão por alguém.
Há uma qualidade espiritual nela. Como falava minha mãe sobre filmes clássicos, parece algo de outro mundo. Talvez seja. A meticulosidade do arranjo vocal combinada com o estilo dos Beach Boys cria uma dissonância bonita e cativante.
Os backing vocals são assombrosos, marca registrada da banda. São anjos invadindo seu ouvido. Brian a entregou para seu irmão Carl Wilson cantar — talvez o maior presente que Carl recebeu em sua vida.
Em seu livro “There’s Only This Year”, o poeta Hanif Abdurraqib escreveu sobre o final hipnótico e divino.
“Há um universo, sempre, em que você está alegremente envolvido no retorno infinito do refrão, e você pode envelhecer lá. Vamos dizer que você e o refrão se encaixam em um tipo de eternidade”, escreveu.
“No começo, aprendi que quando eu desligava o mundo, conseguia sintonizar uma música misteriosa, dada por Deus. Era meu dom, e isso me permitia interpretar e entender emoções que eu não conseguia articular”, afirmou Brian Wilson certa vez.
Nunca houve, nem haverá, nada parecido com “God Only Knows”.