God Save the King Gervais

Atualizado em 24 de maio de 2013 às 13:46

Gosto de Ricky Gervais.

Fui um entusiasta de The Office, criado por ele na versão original inglesa em que ele próprio era o chefe cínico e preguiçoso demais para levar sua canalhice natural a extremos.

Admiro seu humor corrosivo e inteligente, sua irreverência tão britânica quanto a estátua de Nelson em Trafalgar Square. O mundo precisa de mais caras como ele. No Brasil mesmo, há alguém parecido com Gervais? Huck? Faustão? Os integrantes do Casseta?

Hmmm.

Na época em que supervisionei a Vip, no final dos anos 90, quis dar a ela o mesmo tipo de humor. Bem, a experiência terminou em lágrimas. Uma vez, fizemos um ensaio de moda em que o tema era um assalto. Veteranas das revistas femininas julgaram e condenaram publicamente o ensaio.

Por tudo isso aprovei incondicionalmente a maneira como ele apresentou o Globo de Ouro. Cada veneno teve sentido.

Houve um desconforto barulhento entre os premiados, mas o fato é que há anos o Globo de Ouro não gerava tanta repercussão como com Gervais.

Na entrevista que ele concedeu a Piers Morgan, o substituto de Larry King, Gervais se defendeu bem dos ataques.

Seria “nauseante” ficar dando tapinhas nas costas dos astros no Globo de Ouro, ele disse. Para ele, pelo menos, seria.

Há pessoas que nascem para a bajulação. Mas há outras que, graças a Deus, são o oposto disso.

Gervais fez o papel que, na Inglaterra medieval, era do bobo da corte. Mas parece que bobos da corte não são muito apreciados no universo do cinema. Bastam os críticos para dizer coisas desagradáveis. Parece ser essa a mensagem.

Gervais negociou bem. Só falaria o que quisesse. Ninguém leria seu roteiro antes.

E lembrou o óbvio. Sabiam quem estavam contratando.

Se ele não apresentar mais o Globo de Ouro, como é provável diante de tantas queixas de gente habituada a salamaleques, quem vai perder é apenas o próprio Globo de Ouro. Que vai rapidamente retornar a seu papel acessório de alavanca para o Oscar.