Golpistas são empurrados para os braços de Luiz Fux. Por Moisés Mendes

Atualizado em 28 de março de 2025 às 12:13
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux e Alexandre de Moraes. Foto: Wilton Junior/Estadão

A Folha abre manchete para Luiz Fux e dá corda para as divergências do ministro, em confronto aberto com Alexandre de Moraes e os outros quatro colegas da primeira turma.

O jornal acordou seus leitores na quinta-feira com essa entusiasmada chamada de capa: “Fux abre caminho para questionar delação de Cid e rever penas do 8 de janeiro no STF”.

A lista de discordâncias é grande. Começa pela delação de idas e vindas de Mauro Cid. Mesmo que Fux saiba, por todas as delações da Lava-Jato, que um delator nunca é linear e coerente.

As discordâncias estendem-se à tipificação de delitos nas denúncias de Paulo Gonet. Ao fato de os golpistas serem processados pela primeira turma, e não pelo plenário. E ainda ao provável peso das penas em caso de condenação.

Fux acha tudo exagerado, começando pela pena de 14 anos para a moça resumida como a pichadora do batom do 8 de janeiro, adotada pela direita como símbolo das injustiças cometidas pelo STF.

Nem é preciso pesquisar para descobrir se, quando do lavajatismo, o ministro via exagero na caçada, nas evidências de ilegalidades e nas penas de Sergio Moro e Deltan Dallagnol aplicadas contra Lula.

A manchete da Folha atira Bolsonaro nos braços de Fux, ou vice-versa, e avisa: ele pode ser, já na arrancada, o que vocês precisam ter. A mosca na sopa de Alexandre de Moraes.

Folha de S.Paulo destaca divergências de Luiz Fux em julgamentos envolvendo golpistas. Foto: Reprodução

Com um elemento subjetivo na argumentação, para que a turma baixe a bola. Fux acha que os julgamentos estão acontecendo sob ‘violenta emoção’. Põe em dúvida a capacidade de ministros da mais alta Corte adequarem suas emoções e seus sentimentos ao momento que vivem. Também eles foram e continuam sendo atacados.

A manchete vem em momento errado, um dia após a transformação de Bolsonaro em réu, principalmente depois da fala emocionante da ministra Cármen Lúcia em defesa da democracia.

Ao destacar as divergências ‘técnicas’ de Fux, a Folha deixa o ministro numa situação desconfortável. A manchete é exagerada, por dar a entender que ele sozinho poderia embaralhar o julgamento dos golpistas. Vamos repetir:

“Fux abre caminho para questionar delação de Cid e rever penas do 8 de janeiro no STF”.

Abrir caminho? A Folha chamou Fux para andar sobre as águas. Mais tarde, no meio da manhã, alguém deve ter alertado para a formulação bíblica, que foi trocada e ficou assim:

“Fux abre espaço para questionar delação de Cid e revisar penas de condenados do 8/1 no Supremo”.

O abrir caminho foi substituído por abrir espaço e o verbo rever foi trocado por revisar. Ficou mais parecida com a chamada do Estadão:

“Inquérito do golpe: Fux assume papel de ‘revisor informal’ de Moraes e deve disputar procedimentos da ação de Bolsonaro”.

A Folha comete o erro de reduzir todos os processos ao 8 de janeiro. Alexandre de Moraes repetiu várias vezes, ao falar do primeiro lote de réus do chamado núcleo crucial, que a obra golpista era arquitetada desde meados de 2021 e tem muitos outros momentos e episódios antes da invasão de Brasília.

Os jornalões estão oficializando a função de Fux. Agora, é mais ou menos como o Brasil de Dorival Júnior enfrentando a Argentina de Lionel Scaloni. A Folha é o Romário de Bolsonaro, e Fux é o Raphinha. Vai pra cima deles, Fux.

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Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/