Governador de Minas nomeia aecista citada em inquérito por interferir em investigação sobre desvio milionário do Banco do Brasil

Atualizado em 18 de janeiro de 2019 às 17:08
Renata Vilhena com o antigo chefe, Aécio.

Uma das pessoas ligadas a Aécio Neves que o atual governador de Minas Gerais, Romeu Zema, chamou para compor seu secretariado foi citada em inquérito policial por tentar abafar um caso de desvio de R$ 22,7 milhões de reais (R$ 30 milhões, em valores atualizados) no Banco do Brasil.

É Renata Vilhena, secretária da Reforma Administrativa. O inquérito policial em que ela foi citada de maneira dura apurou uma denúncia do Banco do Brasil. Segundo a instituição, a empresa responsável pelo transporte de valores Embraforte havia desviado aquela quantia entre 2012 e 2013, colocando nos caixas eletrônicos menos dinheiro do que o contratado.

Os donos da empresa eram um irmão e dois sobrinhos de Renata Vilhena — Marcos André Paes de Vilhena, Pedro Henrique Gonçalves de Vilhena e Marcos Felipe Gonçalves de Vilhena.

“O poder de Renata sempre esteve pronto a auxiliar o irmão e, como é cediço, tempos atrás a DEIF (Divisão Especializada em Investigação de Fraudes) fora usada para atender os interesses do grupo político do qual faz parte a ex-secretária”, afirmou o delegado Cláudio Utsch.

Em abril de 2014, depois que assumiu a DEIF, Cláudio Utsch encontrou o inquérito parado fazia dois anos. Em três meses, ele concluiu a investigação e indiciou os três. Numa investigação paralela, feita pela Polícia Federal, um dos donos da Embraforte acabou preso.

No relatório do inquérito, Cláudio Utsch aponta que a interferência política resultou na transferência dos autos para a Delegacia de Crimes Cibernéticos, sem nenhuma vinculação com delitos de desse tipo, apenas porque, segundo ele, a delegacia tinha como titular um delegado da confiança do grupo de Aécio, do qual Renata fazia parte.

O inquérito, tocado por um delegado chamado César Matoso, teve depoimentos colhidos na linguagem word de computador e só depois inserido no sistema da Secretaria de Segurança Pública, o que indica que foram preparados por advogados.

“A autoridade policial, travestindo-se de advogado de defesa de criminosos, e em parceria com os advogados de defesa, produziu tais peças. Jamais tais oitavas poderão ser consideradas como interrogatórios de criminosos que cometeram graves crimes de colarinho branco”, afirmou.

Depois que concluiu seu trabalho, o delegado Cláudio Utsch acabou transferido de cargo e o inquérito, encaminhado ao Ministério Público, só se transformou em denúncia em fevereiro do ano passado, quase três anos depois. Desde então, o processo está parado na justiça mineira.

Hoje, os três indiciados estão soltos, e a irmã acaba de reassumir um cargo estratégico no governo mineiro.

Renata foi secretária do Planejamento e Gestão entre 2006 e 2014, pasta que fez o famoso choque de gestão de Aécio, na verdade um conjunto de medidas que, em vez de resolver as finanças do Estado, acabou provocando um rombo maior, cuja conta começou ser paga mais tarde e hoje tornou o governo de Minas Gerais incapaz de arcar com todos os seus compromissos.

Renata está de volta, com esses dois passivos — citada por ajudar ladrões de banco a se safarem da justiça e responsável pelo desequilíbrio das contas do Estado.

O governador Zema é do Partido Novo. Ao chamar os aecistas para ajudar a governar, ele confirma a fama nos bastidores de que não há nada mais velho na política do que as práticas dos líderes do Novo.