“Governar para os que menos têm”: o desafio da engenheira Carolina Cosse, da Frente Ampla, nova prefeita de Montevidéu

Atualizado em 28 de setembro de 2020 às 9:11
Carolina Cosse, nova prefeita de Montevidéu

A Frente Ampla venceu a eleição regional em Montevidéu realizada no domingo, dia 27.

A engenheira e ex-ministra da Indústria Carolina Cosse assumirá a prefeitura, garantindo o 7º mandato consecutivo da coalizão na capital do Uruguai.

Montevidéu se consolida como bastião da esquerda, que está no comando da cidade desde 1990.

Carolina disse no discurso de posse que recebeu um telefonema do presidente, Luis Lacalle Pou, de direita, para uma reunião nos próximos dias.

“Isso mostra como é possível para nós, Frente Ampla, sermos claros nas nossas ideias, sermos firmes nas nossas convicções, governar sem dúvida para os que menos têm e, ainda assim, dialogar, dialogar e dialogar”, afirmou.

O El País fez um breve perfil dela:

Carolina Cosse nasceu em 25 de dezembro de 1961 em Montevidéu. Ele viveu sua infância na rua Azambuya, na divisa entre Villa Española e Curva de Maroñas.

Sua mãe, Zulma Garrido, era professora de história, e seu pai, Villanueva Cosse, ator e banqueiro. Eles se divorciaram cedo, mas sempre tiveram um bom relacionamento. Carolina, por sua vez, cresceu morando com duas mulheres: Zulma e Dona Olga, camponesa que só tinha cursado o terceiro ano do colégio e que fez de tudo para que a neta pudesse estudar.

Frequentou a escola nº 117 e aí, no segundo ano, um professor despertou o seu amor pela matemática. Ela era uma ótima aluna e, em tempos em que as ciências exatas eram um negócio para os homens, ela decidiu estudar engenharia.

Muito jovem sentiu o peso da ditadura, quando o pai teve que se exilar, e ainda se lembra com tristeza de um ano inteiro em que não conseguiu se comunicar com ele ou por telefone. Sua família era humilde e uma ligação interurbana era proibida.

Começou a trabalhar aos 17 anos, dando aulas de matemática na cozinha de sua casa. 

Aos 19 anos, a maternidade colocou uma pausa nos livros. Rodrigo nasceu primeiro e um ano depois, Rocío. Ele é arquiteto, ela é fonoaudióloga.

Mujica e Carolina Cosse

Os dois a acompanharam ontem durante grande parte do dia e depois de saudar os militantes na varanda da Huella de Seregni [nome que se dá à sede do governo], a primeira coisa que pediu foi para se encontrar novamente com seus filhos.

Como seus pais, ela se divorciou quando os filhos eram pequenos, mas sempre diz que tudo foi feito nas melhores condições e que seu ex-marido foi um ótimo pai.

Poucos minutos depois de ser eleita prefeita, Cosse viajou de carro de seu comando de campanha, no calçadão Sarandí, até a Huella. Rodrigo e Rocío estavam no banco de trás. O carro parou num sinal vermelho, ela baixou o vidro e, quando questionada pelo El País, respondeu, visivelmente emocionada: “Estou feliz”.

Depois de deixar os estudos para criar os filhos, voltou para a Faculdade de Engenharia em 1983. Sua militância começou nesses anos na União de Jovens Comunistas (UJC). Embora ela também tenha usado uma aliança com o Partido Comunista para ganhar esta eleição, ela se define como uma “frenteamplista independente”.

Cosse se formou em 1991 como engenheira elétrica. Escolheu essa carreira por ser a mais matemática – em 2009, também concluiu o mestrado em engenharia matemática. Até o início do século 21, trabalhou principalmente em empresas privadas.

Trabalhou na Siemens, Codetel, Edesur, Verizon; embora tenha desempenhado também funções específicas para o Banco de Seguros del Estado (BSE), o Banco de Previsión Social (BPS) e a UTE.

Em 2006, estava no exterior quando recebeu um telefonema de Julio Batistoni, ex-diretor de planejamento da Câmara Municipal de Montevidéu e antigo membro do MLN-Tupamaros e do MPP.

Lá ela foi contratada primeiro para resolver um problema técnico específico, algo que fez com sucesso, e em 2008 tornou-se diretora da Divisão de Tecnologia da Informação, onde ficou responsável pela implantação da tecnologia STM para transporte público.

Foi nesses anos que abordou o MPP, José Mujica e Lucía Topolansky. Ela agradeceu a Lucía especialmente ontem durante seu discurso. Mujica, por outro lado, não foi citado. (…)