Governo Bolsonaro ainda não superou a fase anal. Por Andrés del Río e André Rodrigues

Atualizado em 28 de fevereiro de 2020 às 14:14

Publicado no Justificando

Por Andrés del Río e André Rodrigues

Faz um ano, o inflamado novo presidente de extrema direita, escrevia no seu twitter: “O que é o Golden Shower?” Surpresa mundial. Naquele início de 2019, num clima confuso e com uma esquerda atordoada, em pleno carnaval, num cenário de felicidade coletiva e popular, Bolsonaro gerou estranheza e ira com seus ditos. Até a plataforma Twitter ficou contrariada, tirando-o do ar, tornando-se assim o primeiro presidente do mundo a ser bloqueado por causa de uma postagem.

Um ano depois, na mesma época inicial do ano, com o carnaval de paisagem, com uma esquerda que tentar deixar de estar atordoada: Brasil continua na fase anal e Bolsonaro continua sendo o mesmo esgoto.

Mas agora parece estar voltado para uma fase genital, de adoração ao falo, ao homem duro, rústico, de autoridade e disciplina. E suas ações estão liberando o caráter central de sua postura política: um autoritarismo caricato.

Dessa vez, o sujeito presidencial divulgou no seu WhatsApp um vídeo de apoio à manifestação contra o parlamento e o STF. E, com ele, o ministro Heleno e a secretária de cultura, Regina Duarte, apoiaram as manifestações do presidente.

O filho Eduardo, o não embaixador, respaldou seu pai sem retroceder um centímetro: “Se houvesse uma bomba H no Congresso você realmente acha que o povo choraria?”.

O que esse processo indica, entretanto, é que Bolsonaro continua sendo um “bunda suja” (como era conhecido no âmbito militar), tendo em vista que a agenda de fechamento do Congresso e do Supremo vêm na esteira de uma ampliação do poder militar no governo, onde já tem mais presença que na ditadura. O Brasil continua na sua fase anal.

Neste pequeno artigo, procuraremos criar pontes entre os eventos que aconteceram no carnaval do ano passado e os eventos e discursos deste ano, um chuvoso carnaval. Antecipamos: não sabemos do paradeiro atual do decoro presidencial, ou se ele ainda está vivo e em vigor.

Depois de um ano de governo, todos já sabemos o que Bolsonaro é (como se ele já não tivesse sido suficientemente explícito em seu comportamento em quase trinta anos de parlamentar e durante a campanha eleitoral para presidente).

Ele é autoritário, ele é negligente e incompetente, ele é perigoso, ele tem visíveis relações com a milícia, ele é um político das margens que agora está no centro dos olhares pela decisão das elites (e de outros) para dar continuidade ao golpe de 2016.