Governo Bolsonaro chega ao fim como o mais corrupto da história brasileira. Por Miguel Rosário

Atualizado em 30 de junho de 2021 às 10:04
Jair Bolsonaro. Foto: Evaristo Sa/AFP

Publicado originalmente no Cafezinho:

Por Miguel Rosário

O Brasil acordou hoje horrorizado – embora não talvez surpreso – com a notícia de que o governo Bolsonaro cobra propina de US$ 1 dólar por cada dose de vacina adquirida.

Não devemos sequer usar o verbo no passado, porque o Brasil já nos provou suficiente que denúncias não são suficientes para interromper processos de corrupção.

Ou seja, enquanto Bolsonaro estiver à frente do governo, precisamos supor que a roubalheira denunciada hoje nos jornais continua ocorrendo.

Já temos 516 mil mortos, e o governo Bolsonaro dispensa ou aceita as ofertas de vacina de acordo com a generosidade das ofertas de propina por parte dos intermediários.

Vamos aos fatos.

A Folha de hoje traz a seguinte bomba:

Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, disse que o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou a propina em um jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, região central da capital federal, no dia 25 de fevereiro.

A imagem de “bala de prata” é muito leve. Metáfora mais apropriada para o novo escândalo é de um tiro de fuzil na cabeça do governo. Ou ainda, para lembrar o fim recente de outro psicopata, 38 tiros no corpo fétido de uma administração genocida! Para encerrar esse parágrafo de mau gosto, uma última piada mórbida: governo Bolsonaro, CPF cancelado!

A terra está cheia de minhoca. Abrimos qualquer jornal e nos deparamos com vários escândalos de corrupção, cada um dos quais com força suficiente para derrubar qualquer governo, em qualquer parte do mundo.

A denúncia de Pereira é pesada, tanto que o governo se viu forçado a afastar o diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias.

Dominguetti disse à Folha que Roberto Ferreira Dias compareceu a um jantar acompanhado de um militar e um empresário:

“E, olha, foi uma coisa estranha porque não estava só eu, estavam ele [Dias] e mais dois. Era um militar do Exército e um empresário lá de Brasília”, ressaltou Dominguetti.

Não estivéssemos lidando com tantas mortes, dor, destruição de empregos, poderíamos até admirar a justiça poética da presença de um militar na cena. O roteirista que vem escrevendo os destinos do Brasil não poderia nos decepcionar!

Em entrevista à Crusoé, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que recebeu oferta de propina, em troca de silêncio e/ou participação no esquema da Covaxin.

O governo morreu hoje.

Nos próximos dias, assistiremo o espetáculo macabro de um corpo apodrecendo diante dos olhares estarrecidos do mundo inteiro. As denúncias apresentadas serão enriquecidas com mais depoimentos, vídeos, áudios, mensagens vazadas.

Como serão as próximas manifestações em defesa do governo Bolsonaro: viva a corrupção, viva o roubo de vacinas?

Todos os brasileiros se vacinarão. Eu me vacinei outro dia. E imagino que, poucas vezes em nossas vidas, vivenciamos um sentimento tão coletivo, tão unificado, de júbilo e esperança. Não poucas pessoas choraram ao receber a vacina, porque todos nós sofremos com o medo, a morte de pessoas queridas, a angústia diante do desconhecido. Além disso, o desespero diante da destruição de negócios e empregos nos afligiu a todos! Por isso mesmo, assistíamos, estarrecidos, dominados por um tipo de fúria que tanto deprime, por ser inútil, o presidente vir à público e explorar, da maneira mais cínica e populista, o dilema idiota entre salvar vidas e empregos. Todos nós estavamos desesperados para salvar ambos! Que cidadão, que prefeito, que governador, de direita ou esquerda, desejaria o desemprego de seus irmãos? Por Deus! Bolsonaro tentava colar nos gestores responsáveis, desesperados para encontrar a solução mais humana e mais eficaz contra a pandemia, a pecha de amigos do desemprego!

Como resultado, vimos governadores e prefeitos fazendo vídeos, aos prantos, tentando explicar aos cidadãos que as decisões que eles estavam tomando eram realmente muito difíceis, mas que eles não tinham escolha, diante do risco de vida que o vírus oferecia a toda a população brasileira.

Bolsonaro fez esse tipo de jogo sujo! Uma ação de inacreditável desonestidade, mas que infelizmente lhe rendeu alguns dividendos políticos, porque a mentira é fácil.

Ele lavou as mãos para a pandemia, e tentou faturar politicamente com essa ignorância natural das pessoas.

Felizmente, a mentira se move rápido, convence as pessoas com alguma facilidade, mas tem perna curta. A verdade quase sempre é mais lenta, mais complexa, mais difícil de entender. Quando chega, porém, nada supera a sua força. Sobretudo, ela é duradoura. A verdade é a própria Natureza, o próprio Deus, que não mentem.

Agora está provado que Bolsonaro se postou ao lado da mentira, da corrupção, dos interesses mesquinhos, da ambição desmetida pelo poder.

E o fez explorando uma das maiores tragédias sanitárias da história recente da humanidade, uma pandemia que matou milhões de pessoas, que devastou economias, que aterrorizou 7 bilhões de seres humanos!

Com a chegada da vacina, cuja eficácia é comprovada pela queda abrupta das mortes assim que ela é aplicada em massa, a humanidade agora vai julgar, com severidade, todos aqueles que agiram com irresponsabildiade, mesquinhez e sem compromisso com a ciência!

O presidente da república do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, já ocupa o lugar de um dos principais réus desse tribunal. E não é um tribunal da “história”, não.

É um tribunal de verdade, um tribunal dos homens, um tribunal no Brasil e um tribunal internacional.

Já temos ações correndo no Supremo Tribunal Federal contra Bolsonaro. Já temos denúncias protocoladas na Procuradoria Geral da República.

E quem se postar ao lado desse bandido, será considerado cúmplice, e será julgado também.

As manifestações do dia 3 de julho serão maiores do que nunca.

Apesar de toda a tragédia que vivemos, não se pode negar que, hoje, vivemos um momento de grande alegria e alívio, porque é possível enxergar luz ao final do horizonte.

A ruína moral do governo Bolsonaro arrasta com ele muita gente: o papel de todos esses empresários tarados do neoliberalismo, às vezes chamados coletivamente de “mercado”, também aguarda um duro julgamento, de um tribunal ainda mais terrível do que aqueles que levam oficialmente esse nome. Serão julgados pelo tribunal das urnas!

Se Bolsonaro já aparecia nas pesquisas em colapso, agora não há dúvidas de que não tem futuro nenhum. É certo que, a partir de agora, perderá cada vez mais o apoio dos partidos de centro, temerosos das consequências políticas de serem vistos como aliados de um governo corrupto, genocida, incompetente e que será esmagado pelas urnas em 2022.

O principal tema que se impõe hoje ao país é o impeachment, para afastar qualquer poder de decisão de um presidente notoriamente desonesto e incapaz. Se Bolsonaro nunca demonstrou equilíbrio mental ou emocional mesmo quando tinha apoio popular e no parlamento, agora que perderá tudo, poderá se tornará ainda mais perigoso. As instituições precisam defender a democracia brasileira afastando esse elemento perigoso.

As Forças Armadas, por sua vez, deverão se afastar bruscamente de Bolsonaro. É o movimento mais lógico, porque o motivo que as levaram a se afastar dos governos petistas tinha sido justamente os escândalos de corrupção. Elas não tem outra saída política senão desambarcar do governo e se manterem neutras e distantes por muitos anos.