
Em meio à destruição da cultura no Brasil, após o discurso nazista do então secretário da Cultura Roberto Alvim e a nomeação da atriz Regina Duarte para substituí-lo, o ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira, é um nome forte para disputar a prefeitura de Salvador pelo PT na eleição deste ano. “É um desejo antigo de usar minha experiência política a serviço da minha cidade”, afirma.
Em 2003, foi secretário-executivo do Ministério da Cultura, na gestão de Gilberto Gil, onde permaneceu até 2008, para no mesmo ano ficar à frente do órgão até o final do governo Lula.
Entre 2013 e 2014, foi secretário de Cultura do Município de São Paulo, na gestão de Fernando Haddad, e após a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, foi ministro da Cultura novamente, em 2015 e 2016.
Mas o que será da cultura brasileira agora, sob Bolsonaro? Juca alerta para uma política “autoritária, que restabelece a censura e a perseguição, e enxerga a cultura e a arte como uma ameaça. Não aceitam a liberdade de expressão e criação como um valor e um pressuposto da democracia”.
Para ele, a cultura está sendo usada para estabelecer um projeto político contra a soberania nacional. “Desejam uma sociedade submissa e conformada com um tipo de escravidão”.
Ao ser perguntado sobre o discurso de Roberto Alvim, o ex-ministro afirmou, em entrevista ao DCM: “Não é o primeiro no governo Bolsonaro a copiar falas dos líderes nazistas. São seguidores e estão tentando atacar a democracia e restabelecer práticas totalitárias”.
Para impedir que tais práticas se realizem, insiste que é preciso “resistir, ampliar a consciência social e propor alternativas políticas”.
Ele narrou que, numa plenária para anunciar o apoio à sua pré-candidatura a prefeito, quase todos eram militantes dos bairros periféricos da cidade, da área da saúde, educação e alguns funcionários públicos. Ao final do encontro, o apoio a seu nome foi aprovado.
Juca Ferreira ficou particularmente satisfeito pelo fato de que o apoio recebido foi muito além da classe artística, que trabalhou para que ele fosse ministro da Cultura de Dilma Rousseff.

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“Meu diferencial deve ser representar um futuro governo comprometido com as pessoas, governar para melhorar a qualidade de vida, melhorar a educação, a saúde, a atenção básica; mais justiça social, menos desigualdade, mais e melhores creches públicas para apoiar as mulheres trabalhadoras e as crianças. Reforçaram uma ideia de que cimento não enche barriga de ninguém, só de empreiteiros”, diz.
Ele relata que a reunião foi uma aula sobre como o PT e seus militantes devem se relacionar com sua base social: “O partido tem que reconhecer e valorizar o protagonismo politico dessas pessoas, sabê-las imprescindíveis para um projeto de transformação da sociedade e dar importância aos vínculos que as bases do PT têm com o povo pobre”.
Juca Ferreira certamente conhece a obra do dramaturgo Bertolt Brecht, um dos maiores de todos os tempos, que dizia que o teatro deve ser o espaço ideal para, instigando, transformar os transformadores, isto é, fazer de toda pessoa um cidadão que melhore a sua comunidade — um bairro, uma cidade, um estado, um país.
O sonho de Juca é fazer a mesma coisa no grande palco da vida real: a cidade, seus conflitos, suas contradições, suas carências, sua riqueza cultural.