“Governo Bolsonaro vê a cultura como ameaça”, diz ex-ministro Juca Ferreira ao DCM. Por Davi Nogueira

Atualizado em 26 de janeiro de 2020 às 23:35
O ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira. Foto: Reprodução

Em meio à destruição da cultura no Brasil, após o discurso nazista do então secretário da Cultura Roberto Alvim e a nomeação da atriz Regina Duarte para substituí-lo, o ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira, é um nome forte para disputar a prefeitura de Salvador pelo PT na eleição deste ano. “É um desejo antigo de usar minha experiência política a serviço da minha cidade”, afirma.

Em 2003, foi secretário-executivo do Ministério da Cultura, na gestão de Gilberto Gil, onde permaneceu até 2008, para no mesmo ano ficar à frente do órgão até o final do governo Lula.

Entre 2013 e 2014, foi secretário de Cultura do Município de São Paulo, na gestão de Fernando Haddad, e após a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, foi ministro da Cultura novamente, em 2015 e 2016.

Mas o que será da cultura brasileira agora, sob Bolsonaro? Juca alerta para uma política “autoritária, que restabelece a censura e a perseguição, e enxerga a cultura e a arte como uma ameaça. Não aceitam a liberdade de expressão e criação como um valor e um pressuposto da democracia”.

Para ele, a cultura está sendo usada para estabelecer um projeto político contra a soberania nacional. “Desejam uma sociedade submissa e conformada com um tipo de escravidão”.

Ao ser perguntado sobre o discurso de Roberto Alvim, o ex-ministro afirmou, em entrevista ao DCM: “Não é o primeiro no governo Bolsonaro a copiar falas dos líderes nazistas. São seguidores e estão tentando atacar a democracia e restabelecer práticas totalitárias”.

Para impedir que tais práticas se realizem, insiste que é preciso “resistir, ampliar a consciência social e propor alternativas políticas”.

Ele narrou que, numa plenária para anunciar o apoio à sua pré-candidatura a prefeito, quase todos eram militantes dos bairros periféricos da cidade, da área da saúde, educação e alguns funcionários públicos. Ao final do encontro, o apoio a seu nome foi aprovado.

Juca Ferreira ficou particularmente satisfeito pelo fato de que o apoio recebido foi muito além da classe artística, que trabalhou para que ele fosse ministro da Cultura de Dilma Rousseff.

Juca Ferreira discursa durante plenária da Avante, uma das tendências políticas do PT.
Foto: Divulgação

“Meu diferencial deve ser representar um futuro governo comprometido com as pessoas, governar para melhorar a qualidade de vida, melhorar a educação, a saúde, a atenção básica; mais justiça social, menos desigualdade, mais e melhores creches públicas para apoiar as mulheres trabalhadoras e as crianças. Reforçaram uma ideia de que cimento não enche barriga de ninguém, só de empreiteiros”, diz.

Ele relata que a reunião foi uma aula sobre como o PT e seus militantes devem se relacionar com sua base social: “O partido tem que reconhecer e valorizar o protagonismo politico dessas pessoas, sabê-las imprescindíveis para um projeto de transformação da sociedade e dar importância aos vínculos que as bases do PT têm com o povo pobre”.

Juca Ferreira certamente conhece a obra do dramaturgo Bertolt Brecht, um dos maiores de todos os tempos, que dizia que o teatro deve ser o espaço ideal para, instigando, transformar os transformadores, isto é, fazer de toda pessoa um cidadão que melhore a sua comunidade — um bairro, uma cidade, um estado, um país.

O sonho de Juca é fazer a mesma coisa no grande palco da vida real: a cidade, seus conflitos, suas contradições, suas carências, sua riqueza cultural.