Governo Doria: professoras de 60 anos atacadas pela polícia. Por Donato

Atualizado em 3 de março de 2020 às 19:59
PMs atiram e lançam bombas contra professores. FOTO Mauro Donato

A estratégia de Doria de antecipar a votação da reforma da Previdência pegou muita gente de calça curta, inclusive eu.

A votação que estava marcada para o período da tarde começou às 9:00 e perto do meio-dia a reforma já tinha sido aprovada.

Neste horário, do lado de fora da Alesp, a polícia que já tinha retirado todo mundo na base do tiro, porrada e bomba, permanecia atacando os servidores para afastá-los cada vez mais.

As explosões podiam ser ouvidas de longe enquanto eu apertava o passo para chegar ao local.

A primeira pessoa que vi assim que entrei na avenida Pedro Álvares Cabral estava vomitando. Era uma professora, amparada por outra. Aconselhei a não jogar água no rosto, pois piora muito a queimação do spray de pimenta. Segui.

É sempre ruim chegar quando o conflito já está deflagrado. Não se sabe direito de onde estão vindo os tiros nem para que lado o vento está empurrando a fumaça extremamente irritante aos olhos, nariz e garganta.

Sem enxergar direito, tudo piora muito.

Logo ouvi um homem dizer que tinha sido baleado, mas não pude ajudá-lo. Precisei me proteger atrás de um poste, pois os tiros estavam vindo em nossa direção, enquanto ele se abaixou no canteiro central.

A resistência estava feroz. Aos ataques da polícia, os servidores revidavam com pedras. Fazia tempo não via uma resistência tão longa. Normalmente nas primeiras duas ou três bombas já ocorre a dispersão.

Foram pelo menos 3 horas de paus e pedras versus balas de borracha e bombas de gás. Uma luta desigual, mas feita com bravura.

Grandes volumes de bombas na Alesp. FOTO Mauro Donato

O ar estava irrespirável e é vergonhoso ver senhoras de 60 anos receber esse tratamento vip da polícia.

Estranhamente, o caminhão de som não confirmava aos manifestantes a derrota que ocorrera no plenário. Talvez por receio de que aquilo colocasse mais lenha na fogueira. Medida inócua em tempos de smartphones.

Os ânimos estavam acirrados pela truculência da expulsão das dependências da Alesp e todos também já sabiam que a tunga (também conhecida pelo nome de Reforma da Previdência) havia passado em segundo turno com 59 votos.

A reforma afetará a todos os servidores e altera desde tempo de contribuição até percentual de alíquota.

Obviamente, exige mais do trabalhador. O que revolta, sobretudo no caso dos professores, é o quanto já são explorados, mal pagos, desrespeitados.

Professor atingido por bala de borracha. FOTO Mauro Donato

Professores ganham um salário de fome, precisam tirar do próprio bolso para terem recursos para trabalhar. Sim, professores fazem vaquinha para comprar papel sulfite, tinta de impressora, giz, café e até papel higiênico. O Estado não lhes dá condições mínimas.

E são chamados de vagabundos por João Doria.

Doria, que toma vinhos de três dígitos, não faz ideia do que seja sobreviver com pouco mais de R$ 2 mil por mês. E ainda pisa em cima ao considerar “luxo” que professores possam tomar suco de laranja.

O tucanistão não acabou.

Policial segundos antes do disparo. FOTO Mauro Donato