
Com 2,2 milhões de menções, o governo do presidente Lula (PT) conseguiu reverter a narrativa online sobre o IOF, segundo a Quaest. Desde o início de junho, o Executivo parecia encurralado, enfrentando um Congresso hostil com grande apetite por emendas, o que ameaçava a meta fiscal e poderia paralisar a máquina pública por falta de recursos. O uso de R$ 50 bilhões em emendas e o veto a um decreto presidencial indicavam uma aparente vitória dos parlamentares.
No entanto, a repercussão nas redes sociais mudou o jogo, fazendo os parlamentares “pisarem no freio”. “Foi a primeira vez em que o governo ganhou o embate nas redes sociais”, afirma Felipe Nunes, diretor da Quaest.
A empresa de pesquisa acompanhou a movimentação nas plataformas digitais entre 17 e 30 de junho. Em duas semanas, a disputa entre o Congresso, liderado pelo deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), e o governo, representado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffman, gerou 2,2 milhões de menções e alcançou 10 milhões de contas por hora.
O primeiro sinal online surgiu quando a Câmara dos Deputados derrubou vetos de Lula à lei que visava baratear a conta de luz para a população de baixa renda, com um impacto projetado de R$ 200 bilhões até 2050. Este foi o estopim para a hashtag “inimigos do povo” viralizar.
A virada na narrativa
De acordo com os dados da Quaest, a segunda onda de críticas aos parlamentares eclodiu com a derrubada do decreto de Lula que aumentava a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), somada à aprovação do aumento no número de deputados de 513 para 531 a partir de 2027.
As menções contra o Congresso dispararam, personalizadas na figura de Hugo Motta, e também contra a elite econômica e financeira. Uma manifestação na sede do Itaú, na Faria Lima (centro financeiro de São Paulo), exemplificou essa insatisfação. “Diferentemente de outros episódios de disputa política nas redes, mais polarizados, dessa vez, houve ampla vantagem no volume e alcance de menções pró-governo e um alto volume de críticas diretas contra o Congresso”, complementa Nunes.
Motta tentou capitalizar o sentimento anti-tributário brasileiro, mas a sociedade interpretou o episódio como um Congresso agindo em benefício próprio. Já o Governo enxergou uma oportunidade de promover maior justiça fiscal, propondo reduzir desonerações e isenções para grandes empresas – foi Haddad quem incitou a ira do Congresso ao sugerir o aumento do IOF.
Não é a primeira vez em que a mobilização social faz o Congresso recuar de leis que beneficiariam setores específicos. Exemplos recentes incluem a PEC das Praias, que buscava alterar a legislação sobre terrenos de marinha, e o PL do Estupro, que equiparava aborto a homicídio, mesmo em casos permitidos por lei.