
O governo Lula avalia que a concessão do Prêmio Nobel da Paz à golpista venezuelana María Corina Machado pode aumentar o risco de uma ação militar dos Estados Unidos no país. A leitura no Planalto é de que a premiação fortalece a ala mais radical do governo de Donald Trump, liderada pelo secretário de Estado Marco Rubio, que defende abertamente medidas duras contra Nicolás Maduro.
Segundo a Folha de S.Paulo, fontes do governo afirmam que a láurea dificulta as tentativas do Brasil de reduzir a tensão e defender uma saída diplomática para a crise. Em conversa telefônica recente com Donald Trump, o presidente Lula citou a importância de uma solução pacífica e reiterou que não há temas proibidos entre os dois países, sugerindo que América Latina e Venezuela devem ser tratadas com atenção conjunta.
María Corina, considerada pela diplomacia brasileira uma figura de extrema-direita, surpreendeu o Itamaraty ao ser escolhida pelo Comitê Norueguês. Ela já participou de encontros com líderes conservadores europeus como Viktor Orbán, Matteo Salvini e Marine Le Pen, e chegou a dedicar o prêmio a Trump. Diante disso, o governo brasileiro avalia não emitir um comunicado oficial parabenizando a venezuelana.
Nos bastidores, diplomatas brasileiros comparam o discurso de Corina ao do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que pressionou Washington a aplicar sanções e tarifas contra o Brasil no passado. Para o Itamaraty, ambos defendem mudanças de regime apoiadas pelos Estados Unidos e não hesitam em propor interferência externa, o que contraria o princípio de soberania defendido por Lula.

A preocupação de Brasília cresce diante do aumento da presença militar americana no Caribe. Atualmente, os Estados Unidos mantêm ao menos 10 navios de guerra na região e já atacaram embarcações venezuelanas sob a justificativa de combater o narcotráfico. Para o governo brasileiro, essa retórica pode servir de pretexto para uma intervenção mais ampla.
Lula não mantém contato com Maduro desde agosto de 2024, após as denúncias de fraude eleitoral. Embora o Brasil não tenha rompido relações diplomáticas, a interlocução está praticamente congelada. O Planalto teme que qualquer tentativa de derrubar Maduro provoque uma crise humanitária de grandes proporções, com novo fluxo migratório de venezuelanos para países vizinhos.
Outro sinal de endurecimento veio de Washington. O enviado especial Richard Grenell, que buscava diálogo com o governo de Maduro, foi afastado por ordem de Trump. A decisão dá mais poder ao grupo de Rubio, consolidando uma estratégia mais agressiva e aumentando a tensão em torno da Venezuela, cenário que o Brasil tenta evitar com apelos à diplomacia e ao respeito ao direito internacional.