Governo Lula cita “indignação” e cobra resposta dos EUA sobre tarifaço; leia a carta na íntegra

Atualizado em 16 de julho de 2025 às 13:24
O vice-presidente Geraldo Alckmin e o presidente Lula. Foto: Reprodução

O governo Lula (PT) enviou uma nova carta às autoridades dos Estados Unidos na qual manifesta “indignação” com a tarifa de 50% imposta sobre produtos brasileiros e cobra resposta a uma proposta de negociação confidencial encaminhada em maio.

O documento, assinado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo chanceler Mauro Vieira, reitera que o Brasil está disposto a negociar uma saída “mutuamente aceitável”. A carta, datada de terça-feira (15), foi endereçada ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio americano, Jamieson Greer.

No texto, o governo brasileiro critica duramente a medida anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 9 de julho, e alerta que ela pode prejudicar setores importantes das duas economias.

“A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países”, diz um trecho.

Tarifaço de Trump é 'coisa de mafioso' e usa 'chicote' contra o Brasil, diz analista - Brasil de Fato
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reprodução

O governo também destaca que, ao contrário do que Trump afirmou em carta anterior enviada a Lula, os Estados Unidos têm mantido superávit comercial com o Brasil.

“Nos últimos 15 anos, esse saldo negativo para o Brasil chegou a quase US$ 410 bilhões, segundo dados do próprio governo dos Estados Unidos”, afirma o documento. As autoridades brasileiras ainda dizem estar prontas para dialogar e aguardam que os EUA identifiquem “áreas específicas de preocupação”.

Membros do governo Lula afirmaram que, até o momento, o governo americano não procurou formalmente o Brasil para abrir negociações sobre a tarifa. O Planalto insiste que deseja preservar o relacionamento bilateral e “mitigar os impactos negativos” da medida.

“[Dialogar] com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral”, acrescenta o documento.

Lei a íntegra da carta:

No contexto do anúncio por parte do governo norte-americano da imposição de tarifas contra exportações de produtos brasileiros para os EUA, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, enviaram ontem, dia 15 de julho, carta ao secretário de Comercio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, nos seguintes termos:

1. O governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto. A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países. Nos dois séculos de relacionamento bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos, o comércio provou ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas.

2 . Desde antes do anúncio das tarifas recíprocas em 2 de abril de 2025, e de maneira contínua desde então, o Brasil tem dialogado de boa-fé com as autoridades norte-americanas em busca de alternativas para aprimorar o comércio bilateral, apesar de o Brasil acumular com os Estados Unidos grandes déficits comerciais tanto em bens quanto em serviços, que montam, nos últimos 15 anos, a quase US$ 410 bilhões, segundo dados do governo dos Estados Unidos. Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de preocupação para o governo norte-americano.

3. Com esse mesmo espírito, o governo brasileiro apresentou, em 16 de maio de 2025, minuta confidencial de proposta contendo áreas de negociação nas quais poderíamos explorar mais a fundo soluções mutuamente acordadas.

4. O governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos EUA à sua proposta.

5. Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira. O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral.