
Casais que buscavam concluir o processo para obter o green card nos Estados Unidos foram surpreendidos no último mês por uma série de detenções durante entrevistas oficiais em San Diego. O que seria o passo final para garantir a permanência no país acabou transformado em uma operação de captura conduzida por agentes federais, que aguardavam o fim das entrevistas para prender cônjuges estrangeiros.
Os casos reportados por uma matéria especial do New York Times (NYT) ocorreram em meio ao endurecimento da política migratória do governo de extrema-direita de Donald Trump.
Entre os detidos está Katie Paul, esposa britânica do estadunidense Stephen Paul, que estava acompanhada do bebê do casal. “Tive que tirar nosso bebê dos braços da minha esposa chorando”, relatou Paul, ao lembrar o momento em que agentes anunciaram a prisão.
Levada a um centro de detenção, ela se tornou uma das centenas de pessoas recolhidas durante a campanha de deportação em curso. “É uma loucura eles separarem nossa família”, disse Paul. “Quem quer que esteja dirigindo isso perdeu completamente o contato com sua missão para com o país”.
Advogados de imigração afirmam que dezenas de cônjuges foram detidos desde 12 de novembro, quando a nova prática começou a ser registrada.
Andrew Nietor, ex-presidente da seção de San Diego da Associação Americana de Advogados de Imigração, afirma que a estimativa se baseia em relatos trocados entre profissionais da área. O número exato é desconhecido porque muitos casais comparecem às entrevistas sem assessoria jurídica.
Segundo mandados analisados pela imprensa, as detenções ocorreram sob o argumento de que os estrangeiros haviam excedido o prazo de permanência de vistos regulares.
O ICE justifica que apreensões podem ocorrer sempre que há ordem de remoção, suspeita de fraude ou outras violações migratórias. No entanto, advogados e familiares afirmam que todos haviam seguido os protocolos exigidos, apresentado documentação completa e passado por exames médicos. “Em 25 anos de advocacia, nunca vi nada parecido”, afirmou Johanna Keamy, advogada da família Paul ao NYT.
A legislação de 1986 permite que cônjuges que entraram legalmente no país possam solicitar o green card mesmo com visto expirado, situação comum durante o processo de ajuste de status.
No entanto, durante governos anteriores, detenções nessas circunstâncias eram raras. A mudança coincide com a promessa recente de Trump de revisar pedidos de asilo e green cards concedidos no período anterior e intensificar ações migratórias.

Casos semelhantes ocorreram no mesmo escritório de imigração. Audrey Hestmark viu seu marido, Thomas Bilger, ser algemado após admitir que havia excedido o prazo de seu visto. “De repente, fomos emboscados por três homens mascarados com coletes à prova de balas e armas”, contou. Ele foi transferido para um centro de detenção, onde permanece.
Outro caso é o de Jason Cordero, estadunidense cuja esposa, Ludmila, cidadã mexicana, também foi detida. Ele afirma que ela sofre de ansiedade severa desde a prisão. “Pouco a pouco, estávamos progredindo”, disse Cordero, que trabalha em dois empregos para sustentar o casal.
Keamy relatou que agentes disseram discordar das ordens, mas estavam obrigados a cumpri-las. “Eles estão mandando prender todos que podem”, disse Paul, após conversar com os responsáveis pela prisão de sua esposa.
No caso de Katie Paul, a defesa conseguiu acionar a Justiça Federal para impedir sua remoção. Após a ação, o governo aprovou seu green card e ela foi libertada.
Advogados temem, porém, que dezenas de outros estrangeiros enfrentem longos processos judiciais ou deportação sumária, levando famílias inteiras a rever oportunidades de permanência legal nos EUA.