
O governo federal solicitou, nos últimos anos, ao menos 57 investigações por supostos crimes contra a honra do presidente Lula. Os pedidos envolvem episódios variados, desde pessoas que gritaram “Lula ladrão” em vias públicas até o caso de um militar que batizou uma rede de wi-fi com a mesma frase.
Os dados mostram que 20 apurações foram abertas em 2023, 12 em 2024 e 25 em 2025, todas sob sigilo. Entre os casos estão montagens divulgadas em redes sociais em que o presidente aparece chamado de “Zé Pilantra” ou caracterizado como Zé Pilintra, entidade das religiões de matriz africana.
Também houve investigação motivada por um áudio enviado em grupo de WhatsApp no qual uma mulher ameaçava “pegar um revólver e furar ele todo na bala”, episódio que levou o próprio Lula a cobrar apuração.
Outro inquérito foi aberto após uma mulher se aproximar da residência do presidente, em São Paulo, em dezembro de 2024, com cartazes contra Lula e o ministro Alexandre de Moraes. Ao ser abordada pela Polícia Federal, ela chamou um agente de “macaco” e acabou denunciada pelo Ministério Público Federal por injúria racial.
Parte dessas apurações acabou arquivada. Um dos casos envolvia o influenciador Pablo Marçal, que afirmou que Lula teria “desviado mais de R$ 1 trilhão”. A Procuradoria entendeu que se tratava de crítica política, diferente de “caluniar, difamar ou ferir a honra alheia”.

Em outro caso, a Justiça Federal arquivou investigação contra integrantes do MBL que gritaram “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão” durante evento em Osasco. Para o MPF, o contexto de “profundo acirramento” político exigia observar a “proporcionalidade das medidas”.
Nos quatro anos do governo Jair Bolsonaro, o Ministério da Justiça havia solicitado 16 investigações por possíveis crimes contra a honra. Naquele período, casos mais rumorosos foram enquadrados na antiga Lei de Segurança Nacional, como o processo contra um professor que instalou outdoors com críticas ao então presidente.
Uma das investigações abertas no atual governo teve o ex-presidente como alvo. O inquérito apura o compartilhamento de mensagem que associava Lula ao ex-ditador sírio Bashar al-Assad e à execução de pessoas LGBTQIA+. O caso foi instaurado em julho e segue em análise.
Cabe ao Ministério da Justiça requisitar a apuração de possíveis ofensas ao presidente. Em nota, a pasta comandada por Ricardo Lewandowski afirmou avaliar a “conveniência e a oportunidade de se requisitar a promoção da ação penal” e disse que a requisição “tem a função de autorizar o livre desempenho” das instituições do sistema penal.