Graças a Bolsonaro, cidade tema de documentário do DCM está sem médicos até hoje. Por Donato

Atualizado em 26 de fevereiro de 2019 às 15:03
Médica cubana atende moradora de Melgaço (PA)

O cataclismo bolsonarista deu seu pontapé inicial antes mesmo da posse.

Devido à sua retórica míope e fundamentalista, a primeira consequência da eleição de Jair Messias foi a saída dos médicos cubanos.

Diante do desastre que havia causado, o governo eleito – em comunhão ao então vigente governo Michel Miguel – apressou-se a divulgar que não haveria problemas, que médicos brasileiros iriam suprir a demanda, que todas as vagas já estavam preenchidas.

Tudo balela e Melgaço, para ficarmos em apenas um exemplo, está sem médicos até hoje.

A cidade de pior IDH do país foi tema de um documentário do DCM, dirigido pela cineasta Alice Riff. Na época das gravações, Melgaço, no Pará, contava com quatro médicas cubanas.

Desde a falácia de que todas as vagas seriam repostas rápida e facilmente, apenas seis médicos se candidataram.

Até hoje ninguém apareceu e a esperança recai sobre um único aceite pelo menos.

“Dos que ligaram para pedir informações sobre a cidade, senti que uma médica virá. Os outros desistiram”, declarou Daniel Taveira, secretário de Saúde.

Os índices de Melgaço são assustadores. Apenas 4% da população urbana têm saneamento básico.

Na área rural o saneamento atinge mísero 1% e é lá que estão 80% dos habitantes. Somente 3,5% possuem emprego.

Desde a capital, leva-se 14 horas em um barco para chegar a Melgaço.

Um local de extrema pobreza, com alto índice de gravidez precoce. Meninas têm seu primeiro filho aos 13 ou 14 anos o que faz com que, na idade adulta, a prole já contabilize 10 ou 12 rebentos.

A chegada e atuação dos médicos cubanos nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) de Melgaço fez com que o único hospital local – que só conta com um médico – tivesse seu atendimento reduzido.

Tudo porque a especialidade dos cubanos é a Atenção Primária à Saúde, medicina preventiva. Já nos primeiros oito meses do programa Mais Médicos, o número de casos de gravidez entre as adolescentes havia despencado.

“As médicas iam nas escolas, faziam palestras, orientavam as adolescentes. Conversavam, ensinavam a cuidar da água, a lavar as mãos. As médicas morarem no local, viver na comunidade, fazia toda a diferença”, conta a documentarista Alice.

“O saneamento é muito precário, quase inexistente. Era preciso muito cuidado ao tomar um simples suco ou café. E no Programa Saúde da Família os médicos eram os responsáveis pelo saneamento. Só isso faz o IDH de qualquer lugar subir”.

Cuba já realizou 600 mil missões de saúde pública em 164 países. Recebe e treina médicos do mundo todo (sem cobrar nada).

Foi o primeiro país a desenvolver uma vacina efetiva contra a meningite B, o primeiro a eliminar a transmissão materno-infantil de HIV e sífilis. Os médicos cubanos são recebidos com louvor em países africanos por sua ajuda no combate ao vírus Ebola.

O bolsonarismo é o resultado da desinformação que espalha cretinices como classificar os cubanos como escravos e desqualificar o programa Mais Médicos que havia levado condições mínimas de saúde a locais até então abandonados.

Mas para Jair e sua turma ajuda humanitária é enviar duas caminhonetes F-1000 com poucos quilos de arroz para a fronteira com a Venezuela.

A perpetuação da miséria agradece.